Rosildo Barcellos
AOS MESTRES DO CONGO
Seg, 17 Fevereiro de 2025 | Fonte: Rosildo Barcellos

É cediço que o sincretismo religioso no Congo se manifesta na mescla de elementos afro-católicos, criando uma expressão ímpar. Assim, essa cultura popular é mais do que uma expressão artística, é o espaço onde acontece a manutenção da memória ancestral através da música, da dança e da religiosidade. O Congo existe em várias partes do país mas hoje comento a respirada em Serra e seu arrebol. O município da Serra iniciou seu processo de colonização com a fundação da Aldeia de Nossa Senhora da Conceição, onde, em 1556, foram alojados os índios de Maracajaguaçu, que vieram da Ilha de Paranapuã (seio do mar), no Rio de Janeiro, sob a orientação do padre Lourenço, conforme sugerido pelo Donatário da Capitania do Espírito Santo, Vasco Fernandes. Serra teve o seu território explorado pelos primeiros colonos do Espírito Santo a partir de 1535, sendo habitada pelos Índios Tupiniquins que viviam no litoral. Posteriormente, em 1556, vieram do Rio de Janeiro os Índios Temiminós, ocasião em que o padre jesuíta Braz Lourenço e o Chefe Indígena Maracajaguaçu fundam nas proximidades do Mestre Álvaro a Aldeia de Nossa Senhora da Conceição, estabelecendo as bases de colonização de uma região que, posteriormente, seria a cidade da Serra.
Isto posto, o Congo é uma manifestação cultural e religiosa associada à devoção dos escravizados sobreviventes do naufrágio de um navio negreiro em Nova Almeida, no município de Serra/ES, a São Benedito, a quem foi atribuído o milagre. Ao som de instrumentos como o tambor de congo e a casaca, os congueiros cantam tradicionais toadas, que fazem referências, entre outros assuntos, à escravidão, ao amor, ao mar, a Guerra do paraguai, a Nossa Senhora da Penha. O termo “Congo” taambém é reconhecido comopode ser definido como aquilo que é capaz de suscitar e redimensionar no presente, uma memória de antepassados, sendo essa uma memória cultural oriunda dos povos Bantos de algumas regiões do antigo Reino do Congo, incluindo os povos presentes na região de Angola e outros reinos.
O Congo tem tal importância que em 12 de janeiro de 2004, o som do Congo da Banda Capixaba Casaca, desperta o robô Sonda Spirit, em sua missão em solo marciano. Alguns municípios se adiantaram na questão legal. Por exemplo a Lei Nº 1.198, de 18 de março de 2017, declara o Congo como Patrimônio Cultural Imaterial do município de Anchieta. Sabe-se que o Congo tem uma grande representatividade por algumas comunidades do interior. Conforme consta na Lei, entende-se por “Congo” o conjunto de danças, músicas e manifestações folclóricas trazidas pelos escravos para o Brasil no período colonial, particularmente caracterizada pelo uso de tambores em variados tamanhos, trajes, coreograficas típicas e cânticos, através dos quais invocam os deuses. A iniciativa foi do vereador Tássio Brunoro.
Na tradição oral dos mestres de Congo, as Bandas de Congos surgiram do aufrágio de um navio negreiro, próximo à vila de Nova Almeida, município da Serra no Espírito Santo. Deste naufrágio, salvaram-se aproximadamente vinte e cinco escravos que se agarraram ao mastro do navio, onde, havia uma imagem e a bandeira de São Benedito, tendo os sobreviventes atribuído ao santo o livramento da morte. Em agradecimento ao santo, os náufragos prometeram organizar uma festa, surgindo, assim, a Festa de São Benedito e, com ela, os rituais de cortada e fincada de mastro, que simboliza o mastro que salvou os escravos. Também é realizada, nessa época, uma procissão com um barco chamado de Palermo, em homenagem à cidade natal do santo, que é enfeitado e puxado por um cipó pelas ruas da cidade, representando o navio negreiro. Dessa forma, foi organizada a festa que gerou o aparecimento das Bandas de Congo. Mestre Antônio Rosa Jacinto Rosário Bento e Antonio de Oliveira Amorim são referências que rememoro neste instante. Não poderíamos deixar de lembrar que os enfeites nas cangas dos bois foram feitos há mais de 80 anos pela dedicada Ritinha Silvério. Mais recentemente Fernando Silveira, Fernanda de Oliveira Vieira Presidente do Conselho de Cultura da Serra e Deivid Nascimento, da Associação das Bandas de Congo.
Resta-me dizer que o mastro representa a fé e a resistência dos africanos escravizados que, diante da tragédia iminente, que fizeram uma promessa a São Benedito: se fossem salvos, realizariam uma manifestação em sua homenagem. A fincada do mastro é uma homenagem que aconteceu primeiro para cumprir a promessa feita a São Benedito, um marco que relembra a memória dos nossos ancestrais que sobreviveram ao naufrágio. Por derradeiro, as bandas de congo são as principais guardiãs desse sincretismo. Que a boa tradição sempre se manifeste.
*Articulista
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