Luiz Carlos Amorim
"GÊNERO NEUTRO" E A LINGUÍSTICA
Sáb, 04 Fevereiro de 2023 | Fonte: Luiz Carlos Amorim
Tenho visto algumas matérias sobre a “neutralização” do gênero na língua portuguesa, no Brasil, algumas contra e algumas a favor. Digo no Brasil, porque em outros países não vejo isto. O que também não tenho visto é alguém usar essa novidade, nem em jornais, nem em revistas, nem na televisão. Tá certo que tenho mais de sessenta anos, mas tenho muitos jovens nas minhas páginas em redes sociais, pois sou professor e escritor. Importante frisar que leio meia dúzia de grandes jornais brasileiros todos os dias.
Mas vamos ver primeiro o que é o “gênero neutro”, que alguns insistem que são de emprego corrente, atualmente: “uso de feminino marcado no caso de substantivos comuns de dois gêneros – exemplo: “ a presidenta” – pergunto: vai ser “a estudanta”, também?; emprego de formas femininas e masculinas, sobretudo em vocativos, em vez do uso genérico do masculino – exemplo: alunos e alunas, ao invés de Alunos!; inclusão de novas marcas no final de nomes e adjetivos, como “x” e “@” – exemplos: “amigx, amig@” (que coisa absurda, não? Isso não é linguística, nem gramática: o símbolo @ nem ao menos é uma letra); ampliação da função de marcas já existentes, como a terminação “e” – exemplo: “amigue”; e alteração na base de pronomes e artigos – exemplo: “ile”, “le” (outra vez: que absurdo, nunca vi nada disso). Querem bagunçar ainda mais a nossa língua, que já é tão vilipendiada.
De novo: não vi, ainda, em lugar nenhum esses disparates como “amigx”, “amig@”, “ile”, “nile”, “dile”, “aquile”, etc. Essa não é uma questão linguística, pois essas novidades não são de uso comum, não são de uso geral, pelo contrário, é de uso bem restrito. Línguística é o estudo da língua como ela é falada, mas o presente caso da “neutralização” de gênero está se constituindo mais em uma imposição de escrita, por que não é de uso geral. Para que querer fazer mudanças na língua – mudanças que não são relevantes, nem inteligentes, nem necessárias – numa época tão difícil, quando precisamos priorizar a educação, que está falida em nosso país? Tivemos dois anos sem aula nas nossas escolas, infelizmente, devido à pandemia, a educação já vem sendo sucateada de há muito tempo, o abandono do ensino no Brasil é flagrante, então por que querer fazer mudanças, bagunçando ainda mais o sistema linguístico? Não temos obrigação de saber a preferência sexual de cada um e nem todas as pessoas homo querem ser identificadas, porque o que fazem na vida privada é direito de cada um, não interessa a mais ninguém. E se não soubermos isso, como usar as “neutralidades”?
Então o tratamento para as pessoas do “terceiro” gênero é uma questão de educação, de novo, para não esquecer. E de respeito. Precisamos tratar com respeito todas as pessoas, para merecermos que sejamos tratados com respeito também. Se nos tratarmos com respeito, não é preciso inventar palavras novas para identificar o “gênero” de uns e de outros.
Precisamos parar de dar destaque a debates sobre assuntos que não são prioridade geral e dar importância a temas prementes, como o resgate da educação no Brasil. E quando falo educação estou falando de ensino, conforme reza o dicionário português. Ensino, coisa tão menosprezada em nosso país. Há que se estruturar o ensino para que tenhamos um povo que possa escolher o que realmente é prioridade e assimilar, se for o caso, uma nova atualização na língua, desde que linguisticamente amparada, é claro. Porque a mudança que querem fazer parecer necessária é uma imposição arbitrária e descabida, beirando o ridículo. Respeito quem acha que ela é necessária, mas respeito também a grande maioria do povo brasileiro que nem sabe do que se trata. Que as mudanças sejam usadas entre as pessoas que querem usá-las, tudo bem. Se o uso se generalizar, o que duvido muito, quem sabe será o caso de voltar a discutir a sua inclusão?
Veja Também
No Dia Mundial da Língua Portuguesa, os números chamam a atenção. Mais de 260 milhões de pessoas falam Língua Portuguesa, de acordo com o Instituto Camões. E...
Procura-se uma criança. Procuro a minha criança perdida. Cresci e minha criança interior foi se distanciando – ou fui eu que me distanciei dela? Hoje sou ape...
O que rola em nosso país (e em muitos outros) não é política de verdade, é politicagem, mas seja o que for, ela influi diretamente na minha vida e na vida de...
Vejo um estudo feito sobre a análise de desempenho em práticas sociais de leitura e escrita, por alunos em fase de conclusão do Ensino Médio do Centro de Edu...
Últimas Notícias
- 12 de Outubro de 2024 Lula lamenta morte de Ary Toledo e exalta sua coragem durante a ditadura
- 12 de Outubro de 2024 Após 60 anos, Rio Paraguai supera mínima histórica e chega à cota de -62 cm em Ladário
- 11 de Outubro de 2024 MP libera Jacques da Luz para receber público em jogos da Série B Estadual
- 11 de Outubro de 2024 MS 47 anos: Turismo comemora conquistas e marca forte presença em feiras nacionais e internacionais
- 11 de Outubro de 2024 Novos prefeitos precisam incentivar reciclagem e a economia circular, afirma Inesfa
- 11 de Outubro de 2024 Ministério da Saúde ordena retestagem em material de doadores de órgãos que passaram por laboratório privado após casos de HIV no RJ
- 11 de Outubro de 2024 Eduardo Leite defende que PSDB "discuta fusões e federações” em meio à crise no partido
- 11 de Outubro de 2024 Anatel divulga lista com 2.027 páginas de bets a serem bloqueadas
- 11 de Outubro de 2024 Moderno e competitivo: MS atrai mais empreendimentos que geram empregos e fazem Estado crescer acima da média
- 11 de Outubro de 2024 Nossa Senhora Aparecida será celebrada com missas, quermesse e procissão em Corumbá
- 10 de Outubro de 2024 A cada 30 segundos, uma mulher é vítima de violência no Brasil
- 10 de Outubro de 2024 Mais de 3,2 mil custodiados em presídios de MS realizam provas do Encceja nos dias 15 e 16
- 10 de Outubro de 2024 A 80 dias do fim do prazo, recadastramento do Mais Social chega a 60% dos beneficiários
- 10 de Outubro de 2024 Curso de Formação para novos Guardas Municipais inicia hoje, Dia Nacional da Guarda
- 10 de Outubro de 2024 Chuva contribui para extinção de incêndios florestais, mas equipes continuam mobilizadas em todo MS