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Rosildo Barcellos

NUNO BAEZ

Dom, 05 Janeiro de 2025 | Fonte: Rosildo Barcellos


NUNO BAEZEstou sentindo tanta falta de você
Estou morrendo de vontade de te ver
A gente se completa por inteiro
Com o peso certo e a medida
O nosso Amor se encaixa feito luva
Um presente da vida
E se completa feito o sal e o oceano
O sol que rasga a aurora atrevida
Nos céus os anjos fazem festa a favor 
Um presente da vida
O meu louco amor 
Minha flor carmim 
Arco-íris multicor
A melhor parte de mim 
O meu cobertor
O beija-flor e o jardim 
É assim o nosso amor
A melhor parte de mim 

Com a letra de “O beija  flor e o Jardim” de  Nuno Baez, quero fazer referência neste primeiro artigo do ano a nossa cultura, nossas tradições e costumes, que são os elementos que moldam a nossa identidade e que promovem a diversidade cultural de uma sociedade. Mas, por quê a diversidade cultural é importante? A cultura é um conceito bastante amplo e discutido ao longo da história da humanidade, pois é ela quem dá sentido à nossa vida em sociedade.  Nuno Baez é um “gentleman representante” da cultura cigana. Estive presente na criação da Academia Cigana de Letras, no Instituto Histórico, em Campo Grande e naquela ocasião pude conferir de perto.  

Por assim dizer, o país é lar de três grandes grupos: os Rom, os Sinti e os Calón. A etnia Rom é o grupo originado no norte da Índia ainda no século VI, que atravessou o Oriente Médio e chegou na Europa no século XVI. A etnia Sinti é encontrada principalmente na Alemanha, Itália e França, onde também é conhecida como Manouche. E os Calón, palavra que deriva do Romani caló, que significa negro, passaram pela Turquia, Grécia, Espanha e Portugal até chegarem ao Brasil. O nome da etnia faz referência ao tom de pele do povo Calón. A expressão “baixo calão” vem da língua falada pelos Calón. A contribuição foi em vários aspectos, não só culturais, como históricos, socioeconômicos.  

Desta feita, se pararmos para pensar em uma sociedade sem cultura, sem tradições, ela não existe, mesmo porque, o homem começa a viver efetivamente em sociedade não só porque ele começa a dominar as ferramentas e a domesticar animais, mas também ele vai desenvolver aspectos culturais que vão fazer sentido para aquela comunidade. Quando falamos em cultura é difícil nos referirmos a algo universal, porque cultura é identidade.    

E Nuno Baez, representa esta musicalidade cultural. Cantor e violonista, seu repertório passeia por diversos gêneros e estéticas: em italiano, inglês e espanhol, flamenco, MPB, música regional, música sertaneja e composições autorais. Baez canta profissionalmente desde os 13 anos, iniciou sua trajetória na capital paulista em apresentações no Terraço Itália. Dos 24 aos 30 anos morou na Espanha, na França, Itália e Portugal, período em que pesquisou a cultura e a musicalidade desses países, em especial o flamenco. Veio para Campo Grande em 2004 . Atualmente, possui mais de 1.600 músicas autorais de gêneros e estilos variados e idiomas como espanhol e italiano, além de buscar e preservar os ritmos ciganos   

Para finalizar, não é preciso ir muito longe, para encontrarmos representantes da etnia cigana. Elvis Presley e Charlie Chaplin eram descendentes diretos da etnia Rom. A mãe de ambos os artistas compartilhavam o mesmo sobrenome: Smith. Além dos astros do rock e do cinema, o 21º presidente do Brasil Juscelino Kubitschek também vinha de uma família cigana por parte de seu bisavô materno Jan Kubíek. Apesar do Brasil ter sido, um dos poucos, talvez o único país a eleger um presidente cigano, JK não falava abertamente sobre o assunto a não ser na presença de outros ciganos, devido ao estigma que o povo sofria na época. E só a cultura pode colocar os “pingos nos is” e o respeito as tradições em seu devido lugar. E Baez faz isso com maestria.  *Articulista

Correio de Corumbá

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