Cultura
Documentário sobre fé, doçura e resistência no coração do Pantanal tem pré-estreia neste sábado
“Louvação à Ibejada” terá uma première às 16h durante programação do Festival América do Sul.
Qua, 14 Maio de 2025 | Fonte: Assessoria de Imprensa

Em Corumbá, no coração do Pantanal, há uma cidade inteira que, ao som dos atabaques e do perfume dos doces coloridos, vira terreiro. E não apenas um terreiro de chão batido, mas um terreiro de fé espalhado pelas casas, pelas ruas, pelas ladeiras, pelas mãos que partilham, pelos olhos que se emocionam. É neste cenário onde o sagrado e o cotidiano se entrelaçam que nasce “Louvação à Ibejada”, média-metragem documental dirigido por Thayná Cambará, que estreia em maio com exibições gratuitas pela cidade. O pré-lançamento integra a programação do Festival América do Sul e acontece no sábado, às 16h, com entrada gratuita.
O filme é um mergulho sensorial e afetivo na celebração de São Cosme e Damião, uma das festas mais populares e vigorosas da região, onde crianças correm pelas ruas em busca dos saquinhos de doces, enquanto promessas são renovadas em silêncio dentro dos barracões. Mais do que um registro de uma festa, “Louvação à Ibejada” é uma carta de amor ao povo corumbaense, um retrato da resistência cotidiana, da doçura como política, da fé como gesto de partilha.
“Essa festa não é só devoção, é também resistência. Cosme e Damião nos lembram que a fé se manifesta no gesto mais simples: partilhar. Ver as crianças esperando os saquinhos, os mais velhos preparando com carinho, as promessas sendo renovadas… tudo isso me fez entender que a identidade corumbaense é tecida entre fé, afeto e comunidade”, reflete Thayná Cambará, que também é umbandista e viveu o processo de criação do filme não apenas como cineasta, mas como filha de santo, adepta e devota.
O filme nasceu do desejo de dar continuidade à websérie Encruzilhada de Estórias: Registro das Festividades Afro Brasileiras de Corumbá e Ladário, em que Thayná documentou outras festas religiosas de matriz africana da região. Mas foi em meio à pandemia que a necessidade de filmar Cosme e Damião se impôs como urgência espiritual e pessoal. “Eu tive o meu milagre, que é o bem-estar da minha filha. Então somou a vontade de continuar o projeto com a promessa pessoal que eu tinha a cumprir”, conta.

Porém, o caminho não foi fácil. Gravado entre 2021 e 2022, o filme passou por anos de desafios, tentativas frustradas de lançamento e bloqueios criativos. “Foi muito difícil eu, enquanto médium, me concentrar e entender qual era a mensagem que eu tinha que trazer. Nós tínhamos muitas horas de entrevistas… e como condensar tudo isso numa história que as pessoas pudessem entender?”, lembra.
Essa imersão profunda também exigiu escolhas estéticas cuidadosas. Thayná optou por um híbrido entre o cinema-direto e o cinema-verdade, respeitando o tempo das pessoas, dos rituais, da rua. “A oralidade e o improviso fazem parte da essência dessa tradição. Era importante que o filme tivesse o ritmo da rua, do barracão, da entrega… Que fosse sensorial, vivo. A escolha do formato partiu do desejo de escutar e ver sem dominar”, explica.
Em meio a silêncios, cânticos, brincadeiras de rua e gestos de cuidado, “Louvação à Ibejada” revela como a espiritualidade afro-brasileira pulsa na vida corumbaense e como essa cultura resiste e floresce mesmo em tempos de intolerância. “Contar essa história é um ato de afirmação. Em tempos em que religiões de matriz africana ainda enfrentam preconceito e violência, mostrar a beleza, a doçura e a profundidade dessa tradição é um gesto político e afetivo. É dizer que essa fé também educa, forma e transforma”, afirma a diretora.
Na geografia pantaneira, onde as águas, ventos e matas são orixás em movimento, o filme costura a paisagem natural ao corpo, ao batuque, ao gesto coletivo de fé. “Em Corumbá, a natureza é sagrada. As religiões de matriz africana celebram os elementos da criação porque cultuam orixás que são, em si, forças da natureza. No dia 27, quando celebramos São Cosme e Damião, Corumbá se transforma — a cidade inteira se torna um grande terreiro, onde a doçura, a fé e o axé se espalham pelas ruas”, descreve Thayná, com olhos brilhantes de quem não apenas filmou, mas viveu cada cena.
“Louvação à Ibejada” quer provocar o público a olhar mais fundo, para além do folclore, do estigma e do preconceito. Enxergar nas festas, nas ruas, nas partilhas, as raízes de uma identidade que é coletiva, múltipla e vibrante. “Espero que o filme provoque um olhar mais atento para aquilo que muitas vezes passa despercebido: o quanto a cultura afro-brasileira está presente no nosso dia a dia, nos gestos de cuidado, na música, na fé, na comida, na forma como nos relacionamos com o sagrado e com a comunidade. Aqui o povo reza junto, celebra junto, presta caridade junto, independente da religião. Essa convivência mostra que um povo com história é um povo que respeita, que compartilha e que entende que identidade se constrói coletivamente”, conclui.

A produção tem investimento da Lei Paulo Gustavo, do MinC (Ministério da Cultura), por meio de edital da Fundação de Cultura da Prefeitura Municipal de Corumbá. O filme será lançado ainda durante este mês no canal do Youtube da Bela Oyá Pantanal (https://www.youtube.com/@belaoyapantanal) e terá recursos de acessibilidade como legenda e interpretação de libras.
Rios de Memória Afro-brasileira
As vozes, memórias e expressões afro-brasileiras estarão em evidência no Festival América do Sul Pantanal, que acontece de 15 a 18 de maio, em Corumbá. Com uma programação que atravessa o cinema, a música, as artes cênicas, as artes visuais e a ancestralidade, a presença negra reafirma sua força na narrativa pantaneira, abrindo espaços para reflexões sobre identidade, território e pertencimento. A pré-estreia do documentário "Louvação à Ibejada” integra a programação.
Antes da exibição do documentário, a programação dedicada à cultura afro-brasileira inclui atividades formativas e artísticas que dialogam com o corpo, a palavra e o ritmo. Às 14h do sábado (17), acontece a mesa de diálogos “Raízes, Identidade e Mestres do Saber”, que participam Profa. Mestre Rosiane Albuquerque (Corumbá/MS), Prof. Dr. Mário Sá (UFGD/FADIR) — pesquisador e referência em estudos sobre cultura afro-brasileira, Mãe Elenir Batista (Corumbá/MS) e Mãe Alexandra de Oyá (Campo Grande/MS) — ambas reconhecidas como Mestras do Saber pela PNAB, e será mediada por Thayná Cambará. A atividade visa promover uma troca intergeracional sobre identidade, tradição e pertencimento, conectando saberes acadêmicos e ancestrais na construção de políticas culturais de valorização da afro-brasilidade.

No mesmo dia e horário haverá programação para os pequenos com a escritora Sarah Muricy, autora do livro “O Reino Mágico dos Orixás”. Ela fará uma leitura do livro, com dramatização e interação com as crianças. Além disso, haverá uma atividade prática, já que o livre conta com um encarte para colorir, tratando da temática do sincretismo religioso.
No domingo (18), a partir das 15h, haverá uma Roda de Curimba e Oficina de Capoeira, que irá integrar música, ancestralidade e movimento corporal na prática coletiva que valoriza a capoeira como ferramenta cultural e pedagógica. Este evento acontece na Orla do Porto Geral, próximo a âncora. Para acompanhar a programação e mais informações acesse o perfil da Bela Oyá Pantanal no Instagram: https://www.instagram.com/belaoyapantanal/.
Programação Rios de Memória Afro-brasileira – Festival América do Sul Pantanal 2025
Sábado, 17/05
14h às 16h – Mesa de Diálogos: Raízes, Identidade e Mestres do Saber;
Local: Auditório do Centro de Convenções do Pantanal, R. Domingos Sahib, 570 – Centro, Corumbá.
14 às 16h – O Reino Mágico dos Orixás" com Sarah Muricy – Uma Jornada de Aprendizado e Diversidade;
Local: Sala de apoio no Centro de Convenções do Pantanal, R. Domingos Sahib, 570 – Centro, Corumbá.
16h – Lançamento Documentário Louvação à Ibejada: Minha Fé em Curumim
Local: Auditório do Centro de Convenções do Pantanal, R. Domingos Sahib, 570 – Centro, Corumbá.
Domingo, /05
15h às 17h – Roda de Curimba e Oficina de Capoeira – Técnicas de Capitães de Areia;
Local: Orla do Porto Geral, próximo a âncora.


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