Educação
RAÍZES PARA FICAR, ASAS PARA CRESCER: A UFPANTANAL E O FUTURO SUSTENTÁVEL DO PANTANAL
Ter, 22 Abril de 2025 | Fonte: Hélvio Rech

A cidade de Corumbá, localizada no coração do Pantanal, tem enfrentado, nas últimas décadas, um processo gradual de estagnação econômica, redução da sua influência regional e perda populacional. Embora continue exercendo papel estratégico no contexto pantaneiro, observa-se uma dificuldade persistente na implementação de políticas públicas capazes de promover transformações estruturantes. Em muitos casos, propostas de desenvolvimento não se consolidam, resultando na repetição de iniciativas pontuais e pouco articuladas. Os dados do Censo Demográfico 2022, que apontam uma queda populacional de 7,14%, refletem esse cenário. Diante da escassez de oportunidades, especialmente para a juventude, muitas famílias optam por buscar melhores condições de vida em outras regiões, contribuindo para o esvaziamento progressivo do município.
Há, em Corumbá, uma percepção recorrente de desalinhamento entre o discurso de desenvolvimento e a efetivação de ações concretas que possam transformar a realidade local. Diversas iniciativas anunciadas, como a revitalização do Porto Geral e da área da Prainha, seguem sem execução, enquanto os investimentos públicos tendem a ser pontuais, fragmentados e pouco articulados entre si. O comércio local enfrenta dificuldades para se manter competitivo, o setor industrial permanece com baixa expressividade, e o turismo — apesar do imenso potencial associado ao bioma Pantanal — ainda não alcançou o nível de aproveitamento que poderia representar um vetor de crescimento. Esse conjunto de fatores contribui para a persistência de um quadro de estagnação e limitações no desenvolvimento regional.
Apesar das adversidades, a população de Corumbá e da região pantaneira demonstra uma notável capacidade de resiliência, marcada pelo compromisso com sua identidade, pela organização social e pela disposição de buscar alternativas para o desenvolvimento local. Esse conjunto de características representa um importante ativo social, que tem permitido à região resistir à estagnação e manter viva a expectativa por mudanças estruturais. Trata-se de um capital humano relevante, que deve ser reconhecido e mobilizado como base para projetos de futuro.
É nesse contexto que a criação da Universidade Federal do Pantanal (UFPantanal) aparece como uma alternativa concreta, estruturante e transformadora para Corumbá e região. Mais do que uma simples ampliação da oferta de ensino superior, trata-se de uma proposta de reconfiguração do papel da cidade no contexto regional e seu papel de integração no coração da América do Sul. A UFPantanal pode ser o vetor de uma nova economia baseada no conhecimento, na sustentabilidade e na inovação social. Uma universidade com identidade regional, voltada para os desafios ambientais, sociais e econômicos da região, pode ancorar um projeto de desenvolvimento de longo prazo, integrado com as necessidades locais e conectado com as oportunidades globais.
A presença de uma universidade federal autônoma em Corumbá teria impactos diretos e indiretos de grande magnitude. No plano imediato, geraria empregos qualificados, aqueceria o setor imobiliário e de serviços, atrairia professores, pesquisadores, técnicos, estudantes e suas famílias, e criaria uma dinâmica econômica baseada na circulação de conhecimento e inovação. Em médio e longo prazos, a universidade atuaria como motor de desenvolvimento regional ao formar recursos humanos em áreas estratégicas — como ecoturismo, biotecnologia, ciências ambientais, artes, engenharias, educação intercultural, saúde pública, educação físicas e políticas públicas voltadas para populações ribeirinhas e indígenas.
Além disso, a UFPantanal teria um papel crucial na valorização da cultura local e na preservação do bioma pantaneiro, um dos ecossistemas mais ricos e ameaçados do planeta. A pesquisa científica voltada ao entendimento e conservação do Pantanal pode tornar Corumbá um centro internacional de referência em estudos ambientais, atraindo parcerias, projetos de cooperação internacional e financiamento de agências de fomento. Instituições públicas e privadas poderiam se beneficiar de soluções tecnológicas e de gestão ambiental desenvolvidas localmente, o que contribuiria também para fortalecer a economia verde no estado.
A universidade, ao contrário de promessas que acabaram caindo na descrença, é uma política pública permanente, que se enraíza no território e constrói pertencimento. O jovem pantaneiro, que hoje precisa sair de Corumbá para estudar ou trabalhar, poderia encontrar na UFPantanal uma alternativa de formação de qualidade, com identidade regional, comprometida com o desenvolvimento local. A fuga de cérebros seria revertida, e a cidade passaria a atrair talentos, projetos e investimentos. A universidade não é uma panaceia, mas é uma plataforma poderosa para dinamizar o presente e construir o futuro.
O movimento social e político pela criação da UFPantanal já está em marcha, com apoio de parlamentares, pesquisadores, gestores e da população civil. A Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul já manifestou apoio à proposta, e lideranças regionais têm feito articulações junto ao Governo Federal para incluir o projeto na agenda de expansão da Rede Federal de Ensino Superior. A mobilização tem raízes legítimas: trata-se de uma demanda histórica, baseada em dados, em necessidades concretas e em um compromisso com a justiça territorial. O Pantanal não pode continuar sendo apenas um “tema” para pesquisas feitas de fora — ele precisa ser protagonista do seu próprio destino.
A história de Corumbá testemunha a magnitude um dos centros mais dinâmicos do interior do Brasil. Está marcada por ciclos de grande importância econômica e estratégica, com o porto fluvial, a ferrovia e o comércio com países vizinhos. Hoje, para recuperar essa centralidade, é preciso mais do que nostalgia ou pequenas obras. É preciso ousadia e visão de futuro. A Universidade Federal do Pantanal pode ser o marco de uma nova era: a era da inteligência territorial, da valorização do conhecimento e da reconexão entre cidade, natureza e sociedade.
Não é mais tempo de esperar. É tempo de agir. O Pantanal precisa ser tratado como prioridade nacional — e isso começa com investimentos estruturantes, com políticas de Estado, não apenas de governo.
O movimento pela UFPantanal nasceu do engajamento das forças vivas de Corumbá, Ladário e de toda a região pantaneira. Mais do que uma demanda pontual, ele expressa a construção de um projeto coletivo, autônomo e enraizado na realidade local — sem apadrinhamento, mas com o apoio legítimo do povo pantaneiro. A criação da UFPantanal precisa se concretizar como uma conquista real e transformadora, fruto da mobilização social e da visão de futuro de quem vive e resiste no território. Seu potencial de inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento sustentável para Corumbá, Ladário e todo o Brasil Pantaneiro é imenso. O futuro da região exige essa virada histórica.
Obs. A COP 30, em Belém, será um momento histórico para que o Brasil reafirme ao mundo seu compromisso com a ciência, a justiça climática e a preservação de seus biomas. Esperamos que, nesse cenário de pactos globais e responsabilidades compartilhadas, o Governo Federal anuncie a criação da Universidade Federal do Pantanal (UFPantanal) como uma das ações mais emblemáticas e estruturantes para o futuro do Bioma Pantanal — um dos ecossistemas mais ricos e ameaçados do planeta.
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