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Ahmad Schabib Hany

LUTAR EM VEZ DE COMEMORAR

Dom, 08 Junho de 2025 | Fonte: Ahmad Schabib Hany


Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, antevéspera da COP-30, não há motivos para comemorar, mas para prosseguir a luta incessante pelo protagonismo popular, a única maneira de barrar a cobiça das potências ávidas pelas riquezas naturais e diversidade etnocultural em todo o Planeta.
 
Dia de reflexão, consternação e luta, o Dia 5 de Junho, também conhecido por Dia Mundial do Meio Ambiente, não permite festividades. Porque simplesmente não há o que comemorar. Temos muito que lutar.
 
Desde que o 'primo' golpista e seu sucessor fora de lei jogaram o Brasil 100 anos pra trás, o atraso, insólita política de terra arrasada, é a toada do descompasso do Congresso Nacional, e o 'centrão' se tornou coletivo de ratazanas à espreita não de resíduos, mas de bilhões de reais em emendas vergonhosamente 'pix', secretas, à revelia do arcabouço jurídico nacional, do STF e de Lula, seu refém.
 
O acinte, a torpeza e a certeza da impunidade de membros que envergonham a solene e emblemática Câmara dos Decanos da República -- Senado Federal desde 1889 -- com que quiseram exalar sua fétida misoginia e intolerância ante a Ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, é apenas a ponta de um iceberg por demais hipertrofiado. Não esqueçamos que ela, apesar das inúmeras diferenças que possamos ter, foi por diversos mandatos legítima e incansável senadora amazoníada.
 
Esse acinte não é apenas e tão-somente fruto da grosseria de representantes de uma atrasada e entreguista elite rentista cuja sede hoje é a Avenida Faria Lima (a mesma, aliás, que instigou massas delirantes de patriotas de meia pataca, porque movidos ao verde do dólar, vil metal), em São Paulo, desde 2013, sob pretexto de "combater a corrupção", velho jargão golpista na história do Brasil desde os anos 1950, pois sem coragem para expor seu verdadeiro programa de governo, indefensável para ganhá-lo nas ruas porque entreguista, concentrador de renda e explicitamente antipovo.
 
Por trás do destempero histérico dos 'senhôres' de bens, a ira real decorre da eficiente política de punição de grileiros, garimpeiros, madeireiros, jagunços, banqueiros, mineradores, matadores de aluguel et caterva. Eles até bem pouco tempo destruíam não apenas o meio ambiente, mas centenas de populações originárias e tradicionais da Amazônia e do Cerrado [e talvez, porque ninguém sabe ao certo, do Pantanal] e toda a riqueza representada pela biodiversidade existente em todos os biomas brasileiros sem que os cientistas tivessem tempo ou oportunidade de catalogá-la para a Ciência.
 
HERANÇA MALDITA
O atento leitor deve-se lembrar dos desgovernos que entre 2016 e 2022 se abateram sobre nosso porvir, atentando não só contra o Estado Democrático de Direito, mas contra a soberania nacional e popular, contra o patrimônio público brasileiro e, sobretudo, contra a Vida e a qualidade de vida de amplas camadas populares deste país-continente. A tragédia da barragem de Brumadinho expôs a criminosa impunidade de empresas transnacionais, mineradoras, banqueiros, especuladores, rentistas, sonegadores, grileiros, garimpeiros, leões de chácara, laranjas, jagunços e outros setores do crime organizado que, em troca disso, financiam as campanhas dos pupilos do 'centrão'.
 
Herança maldita desse período sombrio da história recente da República, cuja atuação teria sido capaz de ruborizar facínoras como Emílio Garrastazu Médici et caterva, o desmonte das instituições causou a morte por meio de incêndios e dragas criminosas de milhões de seres vivos, milhares deles não catalogados a tempo pela Ciência, além da execução sumária e covarde, com requintes de crueldade, de humanos da dimensão do indigenista Bruno Pereira, do Jornalista Dom Phillips e de líderes indígenas, quilombolas, seringueiros, sindicalistas e ribeirinhos na maledicente e abjeta era dos funestos Michel & Jair, cujas contas com a História haverão de ser acertadas -- ah, se vão! --, mais dia, menos dia.
 
O cinismo da escrota imprensa corporativa dos merdinho da lobo, mosquita do estradão e frígidas da falha [e até passado recente dos civitatis civitatum da fechol de triste memória], que não deixa de justificar golpistas iguais a ela e por ela apoiados, continua a conspirar, dia após dia, contra a soberania e o protagonismo popular. Seu assumido complexo de vira latas não a deixa raciocinar que o desenvolvimento sustentável e óbvia e logicamente sustentado do Brasil lhe proverá muito mais recursos pecuniários (e às oligarquias que a tomaram de assalto), bem como para rentistas parasitas que desconhecem a generosa alma do hospitaleiro e laborioso Povo Brasileiro [maiúsculas, por favor!].
 
'Tigrões' com os brasileiros, 'tchutchucas' com os oligarcas das big techs -- nos sábios trocadilhos de Zeca Dirceu --, os mal paridos da Faria Lima teimam em subordinar os legítimos e soberanos interesses brasileiros à voracidade sem limite dos loiros e ruivos facínoras das potências nefastas. Paulo Guedes é um coitado, pois há quatrocentões decadentes da pauliceia desvairada que creem que seu novo 'messias' furnísio de fleichas [minúsculas, como a sua alma de meliante!] fará o milagre já desmascarado no início dos anos 1970 por meio de Reis Velloso e Delfim Neto.
 
A recolonização dos heróicos povos do Sul Global é a sanha desses desgarrados, todos frutos de enxerto entre criminosos lusitanos e piratas e corsários (todos, aliás, com seus tentáculos nas hordas europeias, desde os tempos das Cruzadas manchadas do sangue inocente dos plebeus e da Inquisição dos acusados de hereges ou pagãos por não se submeterem às arbitrariedades e cínicos abusos das elites medievais, cujo comportamento nada mudou mais de meio milênio depois).
 
SAÍDA SOBERANA
Para contrapor o plano da extrema direita de implantar, a partir de 2026, uma ditadura fascista no Brasil, uma cobiçada cobaia desta quadra da História, há que se ter bem claras algumas questões. Isto não se trata de ser "do PT" ou "de esquerda". Basta ser nítida e convictamente a favor da democracia, do Estado Democrático de Direito, para não deixar sucumbir o duro mas feliz processo de construção das emblemáticas conquistas, ínfimas perante as atuais gerações, mas de grande relevância para quem conheceu o Brasil entre 1964 e 1985.
 
Nesse contexto, o enfrentamento às investidas do atraso só é possível por meio da contraposição ao conjunto de agressões e negações, enfim, das investidas do negacionismo da extrema direita. Cabe à população, ou melhor, aos setores da vanguarda o estímulo ao protagonismo popular, mediante o qual se dará efetiva e solidamente o soerguimento de uma agenda propositiva, abandonada durante os anos do golpismo-negacionismo. Construir novas estratégias de afirmação e reafirmação de pauta, por um lado socialmente transformadora e por outro ambientalmente conservacionista, representa, de fato, uma saída soberana.
 
As gerações mais antigas têm na memória o ardil capitalista, durante a guerra fria, de levantar bandeiras com aparência de empatia, entre elas os direitos de ir e vir -- isto é, direito à livre migração entre as diferentes nações --, opção sexual e desenvolvimento sustentável, que hoje líderes de todas as potências capitalistas negam e atribuem tais conquistas a um suposto "marxismo cultural" que nem os mais meticulosos estudiosos marxistas um dia leram ou elucidaram em seus mais profundos estudos.

Porque durante a disputa entre o Bloco Socialista e o Bloco Capitalista, isto é, o chamado ocidente [minúscula, pois é disso que se trata a herança colonial em fase de aprofundamento], a tal "guerra fria" usou como artifício a legítima luta pelo direito de viajar livremente por todos os países do mundo -- a despeito do muro que o ocidente incentivou à Alemanha Oriental construir em Berlim --, o direito de emancipação das mulheres em todo o mundo -- que permitiu mais tarde legítima conquista da liberdade sexual e a livre opção sexual em vigência hoje -- e a busca incessante por um Planeta menos poluído e mais equilibrado do ponto de vista ambiental e natural.

Se anteriormente a crise do capitalismo levou seus estrategas a fazer esses ardis na luta ideológica contra o Bloco Socialista, hoje a situação crítica dessas potências, desde a década de 1990 livres da disputa com a ex-União Soviética e seus aliados do Pacto de Varsóvia (cujos países-membro atualmente são em sua maioria integrantes da OTAN, que se estendeu até os limites fronteiriços do território da Federação Russa, razão da guerra na Ucrânia), aflorou uma direita extremista, desavergonhadamente fascista, a qual nega peremptoriamente as liberdades comportamentais estimuladas pelos seus ideólogos décadas atrás.
 
As transformações pelas quais as camadas populares clamam, a conservação de que o Planeta urge e a justiça socioambiental há décadas reivindicadas pelas populações originárias e tradicionais são o tripé para a realização do conjunto de estratégias para a superação do quadro caótico em que estamos inseridos desde o início do retrocesso a que fomos submetidos, é bom que se diga contra a vontade majoritária das camadas populares e das sociedades contemporâneas [entendendo que se trata de sociedades autônomas, histórica, antropológica e etnicamente, as organizações sociais originárias, com a sua diversidade cultural e concepção de mundo].
 
As relevantes falas do Vice-presidente Geraldo Alckmin, do Vice-ministro João Paulo Capobianco e da Ministra Sônia Guajajara, durante a solenidade do Dia Mundial do Meio Ambiente no Palácio do Planalto, são extremamente relevantes, pois o primeiro reiterou o compromisso do Brasil como país-sede da COP-30 de manter os índices anteriores ao desmonte cometido por Michel & Jair, a despeito das tentativas de retrocesso da Câmara Federal (como a PEC da Devastação), para afirmar o Estado brasileiro uma potência mundial de paz e de sustentabilidade. Capobianco, secretário executivo de Marina Silva, emblematicamente louvou a atuação dos brigadistas, a quem homenageou como responsáveis pela brava e aguerrida proteção do Pantanal. Sônia Guajajara, reafirmou o papel dos povos originários na defesa dos biomas, da biodiversidade e da perenização dos rios e bacias nas regiões em que a vegetação nativa está protegida com a presença milenar dos indígenas.
 
Falta, contudo, a ação articulada e permanente de todos os entes federativos, como determina a Constituição Federal e a legislação infraconstitucional, hoje alvo da perversa e obtusa sanha do 'centrão', sob as ordens criminosas daqueles cujo comportamento criminoso já está nos anais da história. Não há sessão no Congresso Nacional, seja na Câmara Federal ou no Senado, em que um cínico negacionista, sob a batuta de um dos 'órfãos' do inominável, não apresente um projeto de emenda que proponha a flexibilização da legislação ambiental, o grande legado da Rio-92, a Conferência das Nações Unidas do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável realizada no Rio de Janeiro há 33 anos.
 
Para concluir, espera-se do Estadista, que o Brasil levou mais de 500 anos para ofertar à humanidade, um conjunto de medidas, na verdade, respostas do Estado brasileiro aos desafios inadiáveis para as emergências climáticas, em que a sonhada Universidade Federal do Pantanal (UFPantanal) seja anunciada e cuja implantação seja feita de maneira efetiva antes do final de seu governo. Trata-se de questão urgente e de efetiva justiça ambiental para o bioma, seus habitantes e, sobretudo, o futuro do Planeta, a se considerar o relevante papel do Pantanal na proteção da Vida e da biodiversidade planetária. Para isso, não apenas a implantação de um centro de referência em estudos do bioma como o estímulo a um novo paradigma de desenvolvimento é necessário, por meio do protagonismo popular, este, sim, responsável pelo porvir da humanidade.
Correio de Corumbá

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