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Caio Bruno

LULA NAS MÃOS DO CENTRÃO

Ter, 17 Junho de 2025 | Fonte: Caio Bruno


Em 2005, quando eclodiu o escândalo do Mensalão o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) então em seu primeiro mandato começou a sofrer risco de impeachment e alcançava altos índices de impopularidade. Em uma de suas ações para tentar estancar a crise, Lula ofereceu nacos de poder ao MDB, dono de grande bancada no Congresso naqueles tempos. Ficou famosa uma foto em que o presidente aparecia de mãos dadas com os emedebistas Renan Calheiros e Michel Temer selando a aliança. À época escrevi um artigo falando sobre o acordo com o título “Nas mãos do PMDB” (nome da sigla até então).

Passados 20 anos, Lula retornou à Presidência para um 3º mandato e dessa vez encara uma conjuntura política muito mais complicada. A polarização está enraizada em ter base parlamentar era coisa simples. Bastava lotear a Esplanada dos Ministérios para os partidos, que estes com a caneta e o orçamento na mão priorizavam seus rincões eleitorais e em troca apoiavam o governo no parlamento. Relativamente fácil né?

Agora não mais. Por mudanças implementadas a partir de 2016 pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB-RJ) e fortalecidas e institucionalizadas a partir do governo Jair Bolsonaro (PL), o Congresso está muito mais fortalecido e comanda ele mesmo partes do orçamento por meio de emendas impositivas em variadas formas. Em outras palavras, não precisam mais tanto do Governo. Eles mesmos executam a emenda, restando ao Planalto apenas liberar o dinheiro. O estado de governança atual do Brasil é quase um semipresidencialismo.

Não necessitando mais de adesão ao governante de plantão para que consiga viabilizar recursos para suas bases, os congressistas aumentaram e muito sua moeda de troca. Os partidos e seus caciques estão cada vez mais fortes.   O MDB, não é mais o fiel da balança sozinho como antes, e juntaram-se a ele outras siglas como PP, PSD, Republicanos e União Brasil que ditam a pauta, os rumos e o que será aprovado ou não no Congresso Nacional. O nome desse ajuntamento de partidos de centro-direita? Centrão.

Reflexo desse momento atual são as últimas votações na Câmara dos Deputados, onde o grupo é mais forte. O Governo Lula só consegue aprovar projetos depois de exaustiva negociação e na base do “vão-se os anéis, mas ficam os dedos” e geralmente na área econômica. Agenda de costumes e de transformação social, pode esquecer que a derrota é certa.

Não seria exagero dizer que Lula 3 só existe hoje por causa do Centrão. Tome-se como exemplo a votação do último dia 16/6 em que se aprovou a urgência para se votar a suspensão do decreto do Governo que aumentava as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).  Foram 346 a favor e 97 contra. Lembrando que para ser aprovado um processo de impeachment do presidente são necessários 342 votos.

No horizonte, não há perspectiva de mudança seja no sistema de emendas, seja na correlação de forças. Será que Lula, aos 80 anos, estaria disposto a tentar um 4º mandato e passar mais 4 anos, caso reeleito, nessa situação?

Caio Bruno é especialista em Marketing Político

Instagram: @o_caiobruno

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