Luiz Carlos Amorim
SER CRIANÇA
Qua, 16 Outubro de 2024 | Fonte: Luiz Carlos Amorim
Chegando mais um dia da criança e nesta época deliciosa é impossível não lembrar da minha infância. Sou de Corupá, terra de dezenas de cachoeiras, pequena cidade aos pés da Serra do Mar, perto de Joinville. Vivi toda a minha infância lá, com exceção de um ano, quando fui estudar em Mafra, mais ao norte de Santa Catarina, em meados dos anos sessenta.
Além dos gibis, quando não tínhamos dever de casa para fazer e eu não tinha que cuidar de meus irmãos – minha mãe também trabalhava, por isso tinha que ajudar – gostava de ouvir fábulas no rádio. Havia um horário, à tarde, em que uma emissora tocava contos infantis e aquilo era uma coisa mágica, encantada, só suplantado por uma tia contadora de histórias, que infelizmente nos visitava muito pouco, apenas em datas especiais.
Por falar na bicicleta, minha mãe fazia biscoitos de araruta com coco e eu levava a massa para assar na padaria, de bicicleta. Eu já era um pouquinho maior, conseguia pedalar, ainda que precisasse ficar de pé. E foi numa dessas viagens à padaria que escorreguei e fiquei preso na corrente da bicicleta, ficando sem a pele de uma boa parte de cima do pé esquerdo. Ainda tenho a marca. Foi um dos muitos sustos que dei em minha mãe, ao chegar em casa com o pé ensanguentado.
Além dos gibis, quando não tínhamos dever de casa para fazer e eu não tinha que cuidar de meus irmãos – minha mãe também trabalhava, por isso tinha que ajudar – gostava de ouvir fábulas no rádio. Havia um horário, à tarde, em que uma emissora tocava contos infantis e aquilo era uma coisa mágica, encantada, só suplantado por uma tia contadora de histórias, que infelizmente nos visitava muito pouco, apenas em datas especiais.
Havia algumas árvores frutíferas em nossa casa, como laranjeiras, limeiras, abacateiros, goiabeiras, ameixeiras e outras que não lembro. O que lembro é que em “tardes fagueiras” eu subia num abacateiro amigo, sentava num galho e cantava até quase estourar, por pura felicidade de ser criança. Uma das canções, que ainda sei de cor, era “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu.
Mas não era só isso. Naquele tempo não havia televisão, vídeo-games, computadores, apenas o rádio e o cinema, de vez em quando. Um domingo ou outro a gente ia à matinê, assistir a um filme de “caubói”. E isso dava margens a novas brincadeiras, como as de “faroeste”, imitando os filmes que víamos.
Foi uma infância feliz, abençoada infância. Brincávamos de coisas que hoje algumas crianças nem ouviram falar, como bolinha de gude, peteca, bilboquê, etc. E já que mencionei este último brinquedo, na última viagem ao Rio Grande, recentemente, tive uma autêntica volta à infância. Eis que, senão quando, ao passear na pracinha de Nova Petrópolis, perto do labirinto verde, encontrei bilboquês de madeira, numa lojinha de um quiosque. Comprei um, afinal ele é quase o botão de ligar o túnel do tempo, embora hoje meus braços não ajudem muito e eu possa brincar pouco tempo. Mas ainda acerto.
Aprendi a nadar muito cedo, pois sempre havia um rio por perto – eu disse que minha cidade é a Cidade das Cachoeiras? Gostava de pescar e aprendi até a pegar peixe na toca, com as mãos. Só não aprendi a pescar de tarrafa. Mas isso fica para uma outra infância.
Até os dez ou onze anos, morei num lado da cidade, perto de um rio. Depois mudamos para o centro, perto de outro rio de um lado e perto da estrada de ferro do outro. Isto significa que parte da minha infância e quase toda a adolescência eu passei às margens dos trilhos do trem, que naquele tempo ainda tinha passageiros. Viajávamos para Joinville, São Francisco, Mafra, Jaraguá do Sul, Curitiba, de trem.
Andávamos a pé pelos trilhos, para cortar caminho para ir à escola, por exemplo. E para ir até a ponte que ficava mais adiante, do lado oposto da cidade, para mergulhar no rio lá de cima. Coisa que minha mãe não sabia, é claro.
Como já mencionei, eu tirava boas notas. E foi na escola, nos tempos de ginásio (a segunda parte do primeiro grau de hoje), que fui descobrir que gostava de escrever. O colégio onde estudava participou de um concurso de redações sobre as afinidades Brasil/Portugal e eu tirei o primeiro lugar da cidade, com recebimento de troféu em solenidade no cinema e tudo. Poucos anos depois, já adolescente, ganhei outro concurso de contos da revista Rainha, que assinávamos, com prêmio em dinheiro, inclusive. Foi um grande incentivo.
Minha infância não teve grandes aventuras, mas foi feliz. Fui criança, e é o quanto basta.
Veja Também
O Grupo Literário A ILHA e as Edições A ILHA voltam com mais uma edição da revista ESCRITORES DO BRASIL, uma das publicações literárias de maior sucesso na ...
Vamos falar de feiras do livro e crianças? Vamos falar de livros para crianças? As duas coisas têm tudo a ver uma com a outra. A propósito de algumas feiras ...
Não é muito comum vermos publicidade honesta, na televisão, mas vi uma que me agradou, há algum tempo, na TV aberta, se não me engano: “Leia para uma criança...
Últimas Notícias
- 10 de Dezembro de 2024 “Operação Boas Festas” da PMMS tem início com a entrega de 70 novas viaturas
- 10 de Dezembro de 2024 Sessão Solene na sexta-feira marca entrega de títulos de Cidadão Corumbaense
- 10 de Dezembro de 2024 Hemorragia não afeta função cerebral do presidente, diz médico de Lula
- 09 de Dezembro de 2024 ‘Caixa Encantada’ arrecada 74,2 mil brinquedos que serão distribuídos para crianças em 356 instituições de MS
- 09 de Dezembro de 2024 Ladário realizará Audiência Pública para construção do Plano Municipal pela Primeira Infância
- 09 de Dezembro de 2024 Empresas de transporte intermunicipal têm até 20 de dezembro para renovar autorização junto à AGEMS
- 09 de Dezembro de 2024 Síria: potências estrangeiras apoiaram 13 anos de guerra contra Assad
- 09 de Dezembro de 2024 Com repasse de R$ 32 milhões, Governo de MS anuncia 13° parcela para 79 hospitais do Estado
- 09 de Dezembro de 2024 CPNU: candidatos reintegrados já podem conferir notas preliminares de discursivas e redações
- 09 de Dezembro de 2024 Defensoria de MS identifica graves problemas no Estabelecimento Penal de Corumbá
- 09 de Dezembro de 2024 Audiência Pública discute custo da energia elétrica na Câmara dos Deputados
- 09 de Dezembro de 2024 Concurso de Presépio mostra criatividade de concorrentes; premiados seguem em exposição
- 09 de Dezembro de 2024 Filhote de Mico é resgatado após cair de uma árvore no bairro Vitória Regia
- 09 de Dezembro de 2024 VÍDEO: Bombeiros resgatam homem que sofreu queda de oito metros em córrego de Corumbá
- 09 de Dezembro de 2024 Instituto Ismaily e Náutico vencem e estão na final do Estadual Sub-17