CANTINHO DO BETÃO - ASSOMBRAÇÃO

Samuel e Anita estavam em visita à fazenda do pai dela. Haviam se casado há poucos dias e ficaram babando com a natureza rupestre, bem diferente da vida da cidade.Foram apresentados aos peões, conheceram os currais, os chiqueiros e os arredores onde havia um belo riacho pejo de peixes. Gamaram pela fazenda e fecharam com o velho a cuidança da fazenda, em troca de um bom pago, com a promessa de que pudessemcultivar, banana, mandioca e outros produtos que iriam vender no vilarejo. Dito e feito. O sogro deu a eles uma caminhonete e uma motocicleta e se mandou, prometendo que todo final de mês iria visita-los, passar o dia com eles e levar o pagamento.                     

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Foram vivendo a vida roceira, ajudados pelos peões para os quais ela, Anita cozinhava, com o auxílio da mulher de um deles e, nas noites de fim de semana, o casal ia até o vilarejo para dançar baile, bebericar uma cervejinha e se atracarem no ringue dos lençóis macios da cama aconchegante, curtindo a lua de mel.

Samuel, já de madrugada, acordava cedo e ia para a lida, auxiliando os peões a ordenhar as leiteiras, roçar aqui e ali, colher cana pra fazer garapa, rapadura e cachaça. O leite era transformado em queijo pelas mãos milagrosas de Anita e de seus auxiliares, sendo comerciado, juntamente com os outros produtos, no vilarejo.

Peixe dava de montão no riacho e Samuel, todos os finais de tarde, estava jogando a isca e iscando bagres, piranhas, pacus e outros peixes e, à noite, sentava-se com os peões para uma cachacinha e uma boa fritada de lambaris.

Todos os finais de mês o sogro vinha trazer o pagamento dele e dos peões, e vinha sempre com um violeiro e um bom sanfoneiro e urrava festança e churrascada até tarde da noite pois, no dia seguinte os peões folgavam.                 

O velho era festeiro e convidava toda a vizinhança para a churrascada e bailão que durava noite adentro.                     

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Certo dia, Samuel encasquetou que queria pescar mais longe, onde, segundo soube, havia peixes dos grandes, como pintados e jaús. Depois do almoço, resolveu dar uma horizontalizada enquanto Anita preparava uma boa matula, caso ele fosse demorar.                    

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Era só jogar a linha e lá vinha um pacu gamela, um pintado ou um jaú e o barquinho já estava carregado.   

Como se saísse do nada, apareceu, nas margens do riacho, uma bela morena,cabelos negros, longos, lábios carnudos e sensuais, trajando um shortinho meia-bunda e um bustiê que mal cobria os mamilos. Apareceu para pegar água e pediu ao pescador para que fosse com ele até o rancho, já que lá tinha uma boa lanterna. Samuel seguiu a dondoca pelo meio do mato até desembocar num ranchinho de pau-a-pique, bem ajeitado.    

Sentou-se numa cadeira ao lado da mesa e ela lhe serviu uma cachacinha da boa e, enquanto degustava a mardita, a gostosona fritava uns lambaris, sempre procurando mostrar seus dotes físicos ao convidado.   

Mais tarde, após um esfrega-esfrega, o leito perfumado recebeu dois corpos desnudos, famintos de sexo.     

Após um sexo selvagem, Samuel cochilou um pouco e logo sentou-se na cama, vestindo a roupa e, ao se despedir da ninfeta, iluminou-a com um facho de sua lanterna e, para sua surpresa, ao invés daquela que lhe proporcionara um bom final de tarde de amor, uma mulher em estado de decomposição deitada ao seu lado, com corós saindo pela boca e pelas entranhas abertas. Sentiu uma mão em suas costas e quase teve um chilique.
- Benhê, acorda, já preparei sua matula, caso você demore e os peões já prepararam o barco para você ir pescar. Já está quase anoitecendo.       

Samuel se aconchegou no regaço de sua esposa dizendo que mudara de ideia e juntos, dormiram até o sol raiar.    

Logo que tomou o café da manhã, Samuel catou dois peões, subiram no barco e desceram ao rio no ponto onde iria pescar. Apoitaram e seguiram o trilheiro que ele seguira, acompanhando a bela ninfeta e, ao invés do rancho, só encontraram escombros e nada, ninguém, nem viva alma para contar a história. Perguntou aos peões, mas estes de nada sabiam. Voltaram à sede da fazenda onde o sogro já estava com seus convidados, cachaça rolando à solta, churrasco crepitando no braseiro e a peonada sorridente com o pagamento do mês. Desse dia em diante, Samuel só pescou na margem do riacho próximo.   

Apesar de tudo, Samuel andava meio encafifado com o estranho sonho e numa de suas andanças pela cidade, perguntava para um e para outro, procurando informações sobre a tapera na beira do rio. Foi o dono do bar, já de idade que lhe contou toda a história, dizendo que há algum tempo atrás, 5 rapazes, filhos de fazendeiros, haviam pegado e seviciado até a morte, uma mocinha que, antes de morrer, jurou voltar para se vingar.    

Quando voltou para a fazenda, seu sogro, que resolvera ficar mais uns dias, havia pegado o barco e saído sozinho para pescar e, preocupados com a demora, Samuel e alguns peões bateram a cavalo até a beira do rio, encontrando o barco apoiado na margem, vazio. 

Samuel, que já conhecia o caminho, conduziu os peões até os escombros do rancho e, lá dentro, o corpo nu de seu sogro, abraçado a um esqueleto feminino.