35 ℃

Roberto Maciel (Betão)

CANTINHO DO BETÃO - É SÓ TER FÉ

Qua, 04 Janeiro de 2023 | Fonte: Roberto Maciel (Betão)


Final de manhã, sol escaldante o solo esturricado, pouca coisa se produzia, naquele cantinho isolado do mundo onde viviam, num rancho, uma família de camponeses. O homem, já passando dos sessenta, sua esposa e um rapazola de uns 14 anos que fazia o serviço mais pesado, como mojar a vaquinha que pouco leite produzia, provia lenha para o fogão que cozinhava o pouco que produziam, já que o pai, artrite braba nas mãos e a mãe acamada, pouco faziam para a lida diária. Um cachorro velho, sarnento, estirado na varanda do casebre, quase já não conseguia levantar como dantes, para cuidar da caça. O pequeno ribeirão, quase secando por falta da chuva, perdera a maioria dos peixes que forneciam o sustento da família.
   O rapazote ajudou a mulher a apear enquanto o homem se dirigia ao celeiro com o burrico.
 O cão, deitado na varanda, rosnou, mostrando os dentes ante a chegada da estranha, mas, ao fitar seus olhos, acalmou-se e ela, agachando-se ao seu lado, tocou-lhe a cabeça. O rapazote pode notar que, com o toque, seu ventre emitiu um tênue brilho.
- Posso ver sua mãe? – disse ela, ao rapazote – leve-me até ela.
- Meu Senhor, pouco tenho a oferecer, sofro de artrite, minha esposa está enferma e não tenho cômodo para que possam passar a noite, a não ser aquele celeiro que era minha carpintaria, mas, se quiserem entrar para fugir da tempestade e comer alguma coisa, o pouco que temos dá pra todos. Recolha seu jumento no celeiro e faça sua mulher entrar.
   O rapazote ajudou a mulher a apear enquanto o homem se dirigia ao celeiro com o burrico.
 O cão, deitado na varanda, rosnou, mostrando os dentes ante a chegada da estranha, mas, ao fitar seus olhos, acalmou-se e ela, agachando-se ao seu lado, tocou-lhe a cabeça. O rapazote pode notar que, com o toque, seu ventre emitiu um tênue brilho.
- Posso ver sua mãe? – disse ela, ao rapazote – leve-me até ela.
  Ela adentrou no cubículo que servia de quarto e, nessa cama, a mulher ardia em febre. Sentou-se ao seu lado, levou as mãos em sua fronte e, diante dos olhos esbugalhados do rapazola, seu ventre emitiu o mesmo brilho quando ela afagou a cabeça do cão.
 Lá fora, relâmpagos e trovões ecoavam e, todos reunidos à mesa, preparavam-se para comer.
- Você é temente a Deus, meu bom homem?
- Já fui devoto, mas acabei perdendo a fé devido a tanta desgraça que aconteceu em nossas vidas:- minha artrite que me impediu de trabalhar, a enfermidade de minha mulher, a seca que acabou com minha plantação e com os peixes que me davam sustento.
- Tenha fé, bom homem. Vamos dar as mãos e orar ao Senhor por esta refeição que agora vamos comer.
   Assim que a mão da mulher tocou a mão artritosa do velho, o rapazote percebeu o estranho brilho que emanava do ventre daquela senhora.   Após a refeição, ela se levantou, dirigindo-se até a porta e, abrindo-a, ergueu as mãos para o céu e os raios e trovões cessaram, dando lugar a uma garoa tênue, que era absorvida pela terra seca.
Enquanto os dois homens assuntavam na varanda do rancho observando a garoa que caía, a jovem gestante e o rapazola cuidavam de lavar a louça e arrumar a cozinha. O recém chegado, no cair da noite, cessada a chuva, só pediu uns trapos para forrar as palhas do celeiro e, para lá, seguiu com a mulher.
   Na manhã seguinte, logo cedo, o homem levantou, ouvindo latidos do cachorro e, divisou na estradinha, o visitante trazendo uma fiada de peixes e o cão saracoteando, alegre, ao redor dele.
- Vamos lá, meu amigo, estica seus dedos e venha me ajudar a limpar estes peixes para o almoço, enquanto seu filho, vai  abastecendo o fogão, para sua esposa fazer o café da manhã.   
  Ainda meio zonzo pelo sono, esticou as mãos e percebeu que os dedos artritosos se moviam com facilidade como antes e, mais admirado ainda, quando viu sua esposa assoprando as brasas do fogão.
                          .x.x.x.x.x.x.
  Ao entardecer o casal pegou rumo da estrada.
- Mas já está quase anoitecendo e como vão achar o caminho para seus destinos?
- Uma estrela nos guiará – respondeu José, com Maria, grávida no lombo do burrico – não se preocupe que em nosso destino nós chegaremos pois assim está escrito. Fiquem em paz e que Deus, o Pai Eterno, abençoe vocês e todos os seus. Tenha fé, que aquela estrela brilhosa que está no céu, nos mostrará o caminho.
  E a família, postada na porta do rancho, percebeu uma enorme estrela que iluminava o caminho dos passantes.
                       .x.x.x.x.x.x.x.
*MEUS QUERIDOS LEITORES, ESTE FOI MEU ÚLTIMO ARTIGO DO ANO DE 2022 E ESPERO VOLTAR EM 2023 COM MAIS INSPIRAÇÃO E COM MAIS ESPERANÇA DE UM ANO FELIZ.
FELIZ ANO NOVO E TODOS TENHAM  FÉ.

Correio de Corumbá

SIGA-NOS NO Correio de Corumbá no Google News

 
 
 

Veja Também

CANTINHO DO BETÃO - CURTINDO A MADRUGADA

   Curtindo a noite, sentado ao relento   Ouvindo o lamento do vento   O tempo mudando e a chuva tentando cair e molhar a terra seca    Castigada pelo sol ar...

CANTINHO DO BETÃO - COMILANÇAS – I

     Prefiro ir tarde da noite para escrever, pois a Consorte e os cães estão dormindo e a paz reina na casa.     Hoje vamos bater de receitas malucas, porém...

CANTINHO DO BETÃO: O FILHO DO SÉTIMO ATACA OUTRA VEZ

Era noite e o bar de Gilson Cara de Bode estava em polvorosa com mais uma noite de casamento. Orlando Cara de Porco já iniciava os preparativos para a “porca...

CANTINHO DO BETÃO: PARAÍSO

Ele bateu na porta da pequena fazenda pedindo pousada e a fazendeira Doralice, como não podia lhe pagar,  ofereceu alguma refeição em troca de seus serviços....

Últimas Notícias