18 ℃

Roberto Maciel (Betão)

CANTINHO DO BETÃO: O MASCATE SALIM

Dom, 05 Maio de 2024 | Fonte: Roberto Maciel (Betão)


Salim já nascera na boleia de um caminhão de Mascate e, assim que sua mãe morreu e o pai o abandonou ao deus dará, resolveu ser Mascate, percorrendo as fazendas para vender suas bugigangas.      

Com o pouco de grana que tinha, adquiriu uma mula marchadeira e mais dois burricos, animais de tração boa para o campo, pois pretendia percorrer as várias fazendas das redondezas, ganhando um dinheirinho aqui e ali até conseguir grana para comprar uma caminhonete para ter mais conforto.      

Dito e feito, partiu pra luta sem quase descansar. Preferia as fazendas, principalmente nas que havia mocinhas sempre vaidosas. Parando aqui e ali, montava sua tendinha e era só esperar a freguesia chegar em busca de um corte de pano, uma bijuteria, um estojinho de maquiagem ou um para de tênis ou uns dois pares de meias para o dia-a-dia. Viajava, muitas vezes, noite adentro e como única proteção, tinha uma garrucha 38.  

Desembarcou naquela fazenda para fugir de uma possível chuva e nuvens plúmbias começavam a encobrir a luz da lua.  

Foi recebido efusivamente pela família do fazendeiro e, após acomodar a mula e os burrinhos no celeiro, correu para a sede sentando-se na varanda em companhia do fazendeiro pra mode degustar um aperitivo pra mode abrir o apetite, tendo o cuidado de aliviar os burricos e, mostrar seu material para a família do fazendeiro que, prontamente adquiriam algum material: - Uma água de cheiro, um desodorante, alguns cortes de tecidos, ou algo assim. Logo os peões foram se aprochegando e suas vendas aumentando, sendo que o dinheiro era guardado na guaiaca. Era aniversário de uma das moçoilas e, no dia seguinte o fazendeiro ia receber convidados das fazendas vizinhas.   

Os sabedores da presença do Mascate, começaram a chegar naquela noite mesmo. O sonho de Salim estava prestes a se realizar pois, com a caminhonete, poderia visitar fazendas mais distantes.    

Os fazendeiros, logo após o jantar, partiram para a festança do dia seguinte, pois já eram sabedores que Salim era ótimo pé de valsa e baileiro dos bons.     

Após um lauto prato de sopa e uma boa macarronada, Salim e o fazendeiro foram para a varanda pitar um palheiro e bebericar mais algumas pinguinhas... Na cozinha, o movimento era intenso, adiantando tudo para a festança do dia seguinte: churrascada, sarrabulho, farofa e a cervejada já pegava friagem num enorme freezer... A carne de sol, já estava no ponto. Acabou não chovendo e os convivas que já haviam chegado, logo acenderam um braseiro, dizendo que a churrascada iria ser puxada por uma boa costela gorda que logo deixou seu cheiro pelo ar.    

A chuva que prometera não veio e logo a peonada montava acampamento lá fora. Acomodações tinham à vontade nos imensos galpões, mas a galera só queria aproveitar a fresca da noite. A cerveja começou a rolar à toda e os convidados, sabedores dos dotes artísticos do turco, jogaram-lhe uma viola nas mãos e a festança começou sob o cheirinho da costela e ao som dos afinadíssimos ponteados do turco.    

Aquilo tudo, pelo jeito, iria varar a noite e, de vez em quando Salim tinha que dar um intervalo para atender algum comprador, mas, já havia aparecido uma sanfona e mais dois violeiros.   

Alguns casais já começavam levantar pó fino do areão ao som dos rasqueados e polcas e, no andar da carruagem, Salim aumentava suas vendas aos recém chegados, engordando a guaiaca.    

Salim era bem apessoado, tanto é que o mulherio o disputava palmo a palmo na dança das araras e ele se sentia o dono do mundo, vendendo, ponteando a viola e se considerando o rei do baile.   

E seu almejado sonho, finalmente, havia chegado. Era só vender a mula e os burros, comprar a caminhonete e investir mais grana em mercadoria.

Correio de Corumbá

SIGA-NOS NO Correio de Corumbá no Google News

 
 
 

Veja Também

CANTINHO DO BETÃO: HOJE É O DIA DELAS

Não sei de que Santa é, pois são tantas...    Desde as virgens que criaram e amamentaram Jesus, até o nosso mundo atual...    Aquela que nos deu, a luz, nos ...

CANTINHO DO BETÃO: COZINHA MALUCA (?)

   Dizem que sou maluco, mas, sempre procuro pesquisar sobre os ingredientes que uso:- Imensa fonte de proteínas, vitaminas e minerais tais como ferro e zinc...

CANTINHO DO BETÃO: EU TE PERCEBO

    Em todas as coisas que vejo    Nos olhos pedintes do cego    Da mão mitigando um pedaço de pão    Eu te percebo    No tudo que olho e vejo    Na natureza...

CANTINHO DO BETÃO: O CASAMENTO DE SEO NHONHÔ

O caminhão de Nagib me pegou em casa lá pelas 6 da tarde. Ia levando o Padre Did, Bodão e mais 10 garrafões da famosa pinga da roça, fabricação exclusiva de ...

Últimas Notícias