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Roberto Maciel (Betão)

CANTINHO DO BETÃO: O CASAMENTO DE SEO NHONHÔ

Dom, 24 Março de 2024 | Fonte: Roberto Maciel (Betão)


O caminhão de Nagib me pegou em casa lá pelas 6 da tarde. Ia levando o Padre Did, Bodão e mais 10 garrafões da famosa pinga da roça, fabricação exclusiva de Jorjão da Pinga, sendo que 5 deles seriam para a festa do casório e os outros 5, para o Gilson Cara de Bode vender no dia-a-dia, a título de propaganda. Vinham também, meia banda de novilha e 2 cabritos já temperados, presentes de, respectivamente, Janjão Vaca Braba e do Bode Manso, cujo nome não me lembro. (Lembrei: Toshiro Bode Manso).       

Em viagem anterior, tinham ido: Adilson Barbeiro e seus auxiliares Benito e Odete Mãos de Fada; além de Francis da Confecção.    

A viúva Mary também mandou um panelaço de sarrabulho e um de rabada, em cuja confecção era muito boa.   

Quando lá chegamos, o nubente já estava tomando um banho de ervas aromáticas e sabonete especial da Botica do Vovô Ozório.Sua carapinha estava sendo habilmente lavada por Benito, enquanto Adilson o lobo solitário, já conferia seu estoque de azulzinho pois via na festança um excelente local para uma boa caçada...   

Enquanto isso, a casa de festas do Gilson Cara de Bode estava em polvorosa, com carne assando, doada pelo pai da noiva, uns catetos, doados por Herculano, dos quais Orlando Cabeça de Porco dava uma boa lascada no tempero.   

Padre Did, já mandara estender o tapete vermelho, de fora a fora, enquanto Mandu, o tamanduá da Vila Utopia varria as folhas secas, amontoando todas num canto. Seo Nhonhô, lombo perfumado e carapinha sabendo a óleos finos, sentou-se numa cadeira e, enquanto Odete dava um trato em suas mãos e pés, Adilson fazia o novo penteado para negros, que aprendera numa aula do Jaça, o cabeleireiro de Silvio Santos.   

Em frente a mim e o Padre Did, uma dentadura já estava mergulhada num copo de cachaça e, ao lado do altar, a mesa dos noivos. Os convivas começaram a pintar na área: Herculano, o italianãoTrovoada e seu pé de bode, Rodão, Osni Bambuseiro e o índio Curupira. Havia lugares reservados para Benito e Adilson. Francis logo iria fazer-nos companhia, assim que acertasse os últimos detalhes no traje de Seo Nhonhô, assim como Odete. Na mesa mais próxima, Anunciata e seu Consorte, e o japonês que trabalhava com Herculano, esperavam a chegada da menina veterinária e seu marido.  

A equipe de Gilson Cara de Bode não parava um minuto, atendendo aos pedidos das mesas e servindo aperitivos.   

Daí a pouco chega a banda, da polca paraguaia que ia animar a festança e, mais uma vez, o caminhão de Nagib trazia mais convidados: Batuque e seus Atabaqueiros, Nicinha Tsunami, Janaína Juazeiro e a famosa reboladeira: Cocó de Anjo, prometendo aquele show.    

Foi quando, num repente, um redemoinho espalha todas as folhas que o Mandu varrera. Era Saçai, o saci entrando triunfalmente.  

Não fui convidado, mas vim pra bagunçar. Tô sabendo que nessas matas tem curupira, então de ter sacis. Vim passar uns dias aqui pra ver se encontro uma sacizinha charmosa – dizendo isso, já foi se abancando ao lado do índio, após ter acendido seu cachimbo numa brasa da churrasqueira. Mandu continuou sua varredura pois já estava quase na hora do cerimonial e Nagib sentou-se junto aos outros.  

Padre Did e os coroinhas se posicionaram em frente ao altar improvisado, assim como Trovoada e Bodão com seus respectivos instrumentos. O conjunto paraguaio fez questão de fazer os acordes na música de entrada da noiva, enquanto Francis dava os últimos retoques no terno do nubente: - bermudão vermelho, tênis branco, paletó amarelo, gravata rosa e cravo vermelho na lapela. 

Terminados os arranjos na roupagem, Francis posicionou-se junto aos músicos, entoaram a Ave Maria enquanto Seo Nhonhô foi receber a noiva da mão do pai. Os convivas se levantaram para assistir ao tão falado cerimonial e, até a gambazinha, companheira inseparável do noivo, caiu em prantos.  

Terminado o Cerimonial, a equipe de Gilson recolheu o tapete vermelho e, depois de todos brindarem à felicidade dos noivos, a harpa paraguaia foi rasgada e o bailão começou, mesmo sem haver a vasa dos noivos. Os pés da galera estavam tão quentes que não deu para esperar.  

Adilson, acostumado com as festanças no Muro Quebrado, foi um dos primeiros a puxar dama em campo. Comilanças e Bebilanças, eram servidas a torto e direito e a madrugada já vinha quase raiando quando subiram no palco: Batuque e seus Atabaqueiros, dando aquele show de pagode e as meninas Ritinha Cocó de Anjo, Nicinha Tsunami, Odete Mãos de Fada e Janaína Juazeiro, deram seu show de bundas, arrancando aplausos dos convivas.   

Já amanhecia quando o casal de noivos embarcou na carroça de Seo Nhonhô e partiram para a lua de mel num ap. já todo ajeitado por 3 dias, pelo pai da noiva.   

O caminhão de Nagib voltou lotado, mas, quem rachou foi a casa de festas do Gilson, que ficou com toda a restança das comilanças, só tendo o trabalho de deixar tudo bem limpinho para a noite seguinte.
 

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