Rosildo Barcellos
QUEM MATOU LAMPIÃO
Seg, 10 Julho de 2023 | Fonte: Rosildo Barcellos
Na versão oficial, consta que, em 28 de julho de 1938, em meio a Grota de Angico, em Sergipe, Lampião morreu de um tiro disparado por um dos guarda-costas de Francisco Ferreira, o oficial Antonio Honorato da Silva. Mas essa constatação não preenche algumas lacunas na história da morte de Virgulino Ferreira da Silva, e levanta ainda mais dúvidas sobre o que aconteceu no momento final do maior cangaceiro do sertão brasileiro. O cangaço nasceu com a colonização. A origem do cangaço está nos levantes indígenas, nos quilombos e nas revoltas sociais, como Canudos. O cangaço é irmão desses três levantes, mas com arma na mão. Entre 1951 e 1958, Portinari pintava sua famosa série “Cangaceiros”. Essas pinturas estão espalhadas pelo mundo. O filme mais premiado fora do Brasil é o “Cangaceiros”, de 1963, do Lima Barreto. O tema foi muito discutido na Europa, foi interpretado de modo ideologizado. Aparece no filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha. Aparece também na literatura, em livros de José Lins do Rêgo, Graciliano Ramos, Jorge Amado e Rachel de Queiroz.

Uma das maiores autoridades no assunto, Frederico Pernambucano de Mello foi a Pedra Velha, em Delmiro Gouveia/Alagoas, em dezembro de 2003 e gravou horas e horas de entrevista. No mês seguinte o orador falece. Havia sido diagnosticado com aneurisma inoperável. Seu nome é Sebastião Vieira Sandes, o verdadeiro assassino de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.
Lampião não morreu em combate. E quem atirou nele não foi o Honorato, como divulgaram os jornais da época. Foi o Sandes, com apenas um tiro que acertou a região umbilical. Depois desse disparo que o confronto de 20 minutos entre os cangaceiros e a Força Volante de Alagoas começa”, conta.Quem também corta a cabeça de Lampião é o Sandes. Ele encontra o corpo com as vísceras de fora. A bala triscou o punhal da cintura e rasgou o abdômen de Lampião. Frederico é o autor de “Apagando Lampião - Vida e Morte do Rei do Cangaço” (Global Editora), lançada, 80 anos depois da morte de Virgulino. A obra, que renova a historiografia do cangaço ao desatar vários nós da trajetória daquele que é um dos personagens mais emblemáticos da história do país e que hoje conto aqui no Correio de Corumbá.
Em sua pesquisa que durou décadas, Frederico reuniu raro material de documentos escritos, fotos inéditas e entrevistas orais, tudo para trazer detalhes, resgatar personagens até então pouco abordados, comprovar fatos, contextualizar situações. O livro inova em quatro questões: a origem da intriga da família de Lampião com a de Saturnino Pereira, a fuga para Bahia, a ida para Minas Gerais e as circunstâncias da morte de Virgulino.
O cangaço é a mitologia mais forte que o Brasil possui. Tem uma base real, concreta, e é recente, está quase ao alcance da mão. É das manifestações que forma uma cultura, com dança, vestimenta, técnicas de batalha. Sobre o Sebastião Vieira Sandes, personagem dessa história, Frederico o descreve como uma figura curiosa. “Coiteiro, ficou muito próximo de Lampião e Maria Bonita, que o tinham quase como afilhado e o chamavam de ‘Galeguinho’. Mas em 1937 ele acabou preso. Normalmente os coiteiros capturados acabavam mortos. Mas um fazendeiro interviu na situação. Para continuar vivo, Sandes se viu obrigado a ajudar a Força Volante. Foi amarrado com a tropa até onde o bando estava escondido. E chegando lá, recebeu a ordem para atirar.” E assim, agora sabemos uma outra versão dos fatos, mas ao meu ver recheada de fundamentos. Ao leitor a decisão e uma razão para o rosto de espanto de Virgulino ao cair em terra. *Articulista
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