Educação
O SONHO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PANTANAL
Qua, 30 Abril de 2025 | Fonte: Jorge Eremites de Oliveira*
Sonho que se sonha só
É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto é realidade
(Canção Prelúdio, de Raul Seixas, álbum Gita, 1974)
Nasci em Corumbá no inverno de 1968, época de Mato Grosso uno. Era mais um menino pobre na beira do rio Paraguai. Passei parte da infância e início da adolescência no bairro Cervejaria, ali nachamada “Cidade Sem Lei”. Passava as férias escolares nadando, pescandoe brincando com os amigos da vizinhança. Bastava vir uma enchente muito grande, como aquela de 1974 e outras, e lá estávamos nos mudando de mala e cuia para a parte alta da cidade. Comecei a trabalhar cedo e aos 15 anos tive acarteira de trabalho assinada como “Auxiliar de Balconista” na Drogaria Santa Terezinha. Depois passei por outros empregos até chegar ao cargo de “Auxiliar de Serviços de Saúde” no Posto de Saúde da Ladeira Cunha e Cruz. Tempos depois, fui para o magistério superior.
Minha vida começou a mudar em fins de 1987, quando concluío“Segundo Grau” (Ensino Médio) no JGP, sigla pela qual chamamos a querida Escola Estadual Júlia Gonçalves Passarinho. Estudando a noite, consegui concluir o curso de Técnico em Contabilidade. No começo de 1988, agrande mudança aconteceu ao ser aprovado no vestibular e começar a fazer o curso de Licenciatura Plena em História no Centro Universitário de Corumbá (CEUC), atual Campus do Pantanal (CPAN),da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Concluí a graduação em dezembro de 1991 elogo em seguida, em janeiro de 1992,fui morar em São Leopoldoedepois em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, onde comecei os estudos de mestrado e, na sequência, os de doutorado. Significa dizer que sou eternamentegrato ao CEUC/CPAN e às pessoas que ali trabalhavam e estudavam pela memorável acolhida no ensino superior.
A bem da verdade, na UFMS aprendi a ler o mundo e o mundo se mostrou bem maior e mais interessante, diversificado e complexo do que imaginava. Peguei gosto e amor por muitas coisas: educação, ciência, história, cultura, gente diferente da gente e, óbvio, Pantanal. Decidique seria professor universitário e pesquisador dedicado a trabalhar na planície pantaneira. Para isso, contei com o apoio de familiares, amigos, professores e outras tantas pessoas. O tempo passou e, como dizia orgulhosa a minha saudosa avó materna, uma cacerense de sabedoria ancestral, quem diria que aquele menino lá de Corumbá, da beira do rio,seria Doutor.
Mas o que esta parte da minha história de vida tem a ver com o título deste artigo? Ora, se o antigo CEUC foi umdivisor de águas na minha vida e na vida de tantas outras pessoas de origem humilde, imaginem o que uma universidade autônoma, com dotação orçamentária própria e vocacionada para o Pantanal, poderá fazer de bom a milhares de pessoas em Corumbá e Ladário, e em toda a região da bacia do alto curso do rio Paraguai e para além-fronteiras? Pragmaticamente falando, pergunto quais serão os impactos positivos doorçamento deuns 350 milhões de reais ao ano na região, montante aproximado para o funcionamento de uma nova universidade federal? Quantos postos de trabalho diretos e indiretos serão gerados por meio do investimento de um recurso desta natureza na região fronteiriça? Quais seriam os impactos da uma universidade autônoma, com cerca de 10 mil estudantes de graduação e pós-graduação e mais de mil servidores concursados, na construção civil e no comércio local? A resposta para estas e outras perguntas não é simples porque não se deve simplificar a complexidade, embora tenha a certeza de uma coisa: o projeto da Universidade Federal do Pantanal (UFPantanal) não será a redenção para todos os problemas enfrentados pela população da região, mas será uma verdadeira revolução na Capital do Pantanal e em cidades vizinhas. Corumbá, por exemplo, tornar-se-á em uma pujante cidade universitária.
Diria mais: uma universidade autônoma focada no Pantanal será referência nacional e internacional para todo tipo de ciência voltada à maior planície de inundação do globo, inclusive para o planejamento estratégico, com inclusão social e desenvolvimento sustentável, no coração da América do Sul.Além disso, tenho certeza de que a UFPantanal será procurada por estudantes do Brasil e de outros países, todoseles em busca de uma formação diferenciada e de excelência em diversos campos do conhecimento.
Estaria sendo demasiado sonhador? Talvez sim, mas como poderia ser diferente se sou corumbaense de origem humilde e sei muito bem o que é ficar desempregado ou sobreviver com um salário-mínimo na minha terra natal?Além disso, conheço muitos conterrâneos que deixaram a terrinha em busca de uma vida melhor. Por onde ando no país, encontro corumbaenses e ladarenses: Campo Grande, Dourados, Cuiabá, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife... e até no Sul do Rio Grande do Sul.
Sendo um excelente projeto para Corumbá e Ladário, a pergunta que fica é como fazê-lo acontecer, quer dizer, como criar e implantar a UFPantanal? Um projeto desta envergadura, que está sendo escrito com esmero a partir do estudo apurado de experiências bem-sucedidas em várias partes do globo, precisa mobilizar todo tipo de apoio político: parlamentares municipais, estaduais e federais; prefeituras de municípios pantaneiros; governos estaduais e federal; sindicatos patronais e de trabalhadores; associações de todo tipo (moradores, comerciantes, industriários, produtores dos mais diversos, artistas, artesãos etc.); movimentos sociais e etnicossociais; celebridades e figuras públicas formadoras de opinião; etc.
Dessa forma,a Universidade Federal do Pantanal não será um sonho que se sonha só. Será um sonho que se sonha junto, uma realidade promissora para Corumbá, Ladário e toda a região do Alto Paraguai.
Se chegou até aqui, então venha sonhar com a gente e somar com o Movimento UFPantanal. Assine o abaixo-assinado pela criação, em Corumbá, Mato Grosso do Sul, da Universidade Federal do Pantanal (https://www.change.org/p/pela-criação-da-universidade-federal-do-pantanal-ufpantanal) e converse sobre o assunto comoutras pessoas: familiares, colegas de trabalho, autoridades e lideranças da região.
Somos todas e todos UFPantanal!
(*) Doutor em História/Arqueologia pela PUCRS, pós-doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ, docente da UFPel, bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq e autor de dezenas de publicações científicas sobre Arqueologia, Etnologia e Etno-história do Pantanal e regiões adjacentes.
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