Gregório José
UM BRASIL DE CASSINOS E APOSTAS
Ter, 08 Julho de 2025 | Fonte: Gregório José
Na próxima terça-feira, o Senado Federal vai tirar mais uma carta da manga: a votação da legalização dos cassinos, bingos e jogos de azar. O projeto, que já girou mais do que roleta em cassino clandestino, volta à pauta pelas mãos diligentes do presidente da Casa, Davi Alcolumbre, esse croupier da política que, desde o ano passado, distribui fichas de esperança a quem sonha em ver Las Vegas com feijoada e samba.
Apesar do esforço do governo e da simpatia calorosa do Centrão — que vê na jogatina uma promissora mina de ouro fiscal, agora que as “bets” viraram febre e vício — a proposta ainda enfrenta resistência, sobretudo da bancada evangélica. Claro. Jogar no bicho todo mundo joga, mas fazer isso com ar-condicionado e coquetel no balcão, aí já é pecado.
Hipocrisia? Talvez. Afinal, o Brasil é o único país onde o jogo é proibido por lei, mas o “tigre”, o “cachorro” e a “águia” rodam pelas esquinas impunemente há décadas. O bicho, esse fóssil de um Brasil que finge que não é informal, sobrevive sorrateiro e sorridente, como quem diz: “Legalizem aí, mas sem me tirar da jogada.”
E há outro detalhe curioso: grande parte das cidades brasileiras, com orgulho quase moralista, proíbe a tal “poluição visual”. Não pode letreiro colorido, não pode pisca-pisca, não pode fachada chamativa — a não ser, claro, no Natal, quando até poste ganha gorro. Mas e os cassinos? Esses, segundo o projeto, poderão se instalar em polos turísticos, resorts, hotéis de luxo, navios fluviais e marítimos, e até em cidades com mais de 150 mil habitantes. Como farão para atrair turistas sem luzes? Farão sinal de fumaça? Cassino discreto é como samba mudo: não tem graça.
É curioso como o Brasil lida com o azar. Odeia-o institucionalmente, mas o cultua com fervor. Lotéricas vivem lotadas. Raspadinhas vendem mais que livros. A Mega da Virada é o evento do ano. O brasileiro, dizem, não desiste nunca — mas a bem da verdade, o brasileiro adora uma fezinha. O jogo é quase um sacramento, ainda que oficioso.
Enquanto isso, o Senado joga com as fichas do moralismo, da arrecadação e da conveniência eleitoral. Alcolumbre está convencido de que agora é a hora. Mas se o placar político não for favorável, a proposta será retirada, como foi em dezembro passado. E assim segue o jogo: avança, recua, aposta, blefa. No fim, ninguém sabe se vai dar preto ou vermelho — só que a banca, como sempre, tende a ganhar.
E o povo? Ah, o povo continua ali: olhando o letreiro que não pode brilhar, jogando no bicho que não pode existir, sonhando com um cassino que talvez um dia abra... Mas só se não atrapalhar a estética urbana. Porque cassino, sim. Neon, não.
Boa sorte a todos nós.
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