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Roberto Maciel (Betão)

CANTINHO DO BETÃO: O MASCATE SALIM

Dom, 04 Maio de 2025 | Fonte: Roberto Maciel (Betão)


Salim já nascera na boleia de um caminhão de Mascate e, assim que sua mãe morreu e o pai o abandonou ao deus dará, resolveu ser Mascate, percorrendo as fazendas para vender suas bugigangas.

Com o pouco de grana que tinha, adquiriu uma mula marchadeira e mais dois burricos, animais de tração boa para o campo, pois pretendia percorrer as várias fazendas das redondezas, ganhando um dinheirinho aqui e ali até conseguir grana para comprar uma caminhonete para ter mais conforto.

Dito e feito, partiu pra luta sem quase descansar. Preferia as fazendas, principalmente nas que havia mocinhas sempre vaidosas. Parando aqui e ali, montava sua tendinha e era só esperar a freguesia chegar em busca de um corte de pano, uma bijuteria, um estojinho de maquiagem ou um para de tênis ou uns dois pares de meias para o dia-a-dia. Viajava, muitas vezes, noite adentro e como única proteção, tinha uma garrucha 38.

Desembarcou naquela fazenda para fugir de uma possível chuva e nuvens plúmbias começavam a encobrir a luz da lua.

Foi recebido efusivamente pela família do fazendeiro e, após acomodar a mula e os burrinhos no celeiro, correu para a sede sentando-se na varanda em companhia do fazendeiro pra mode degustar um aperitivo pra mode abrir o apetite, tendo o cuidado de aliviar os burricos e, mostrar seu material para a família do fazendeiro que, prontamente adquiriam algum material: - Uma água de cheiro, um desodorante, alguns cortes de tecidos, ou algo assim. Logo os peões foram se aprochegando e suas vendas aumentando, sendo que o dinheiro era guardado na guaiaca. Era aniversário de uma das moçoilas e, no dia seguinte o fazendeiro ia receber convidados das fazendas vizinhas.

Os sabedores da presença do Mascate, começaram a chegar naquela noite mesmo. O sonho de Salim estava prestes a se realizar pois, com a caminhonete, poderia visitar fazendas mais distantes.

Os fazendeiros, logo após o jantar, partiram para a festança do dia seguinte, pois já eram sabedores que Salim era ótimo pé de valsa e baileiro dos bons.

Após um lauto prato de sopa e uma boa macarronada, Salim e o fazendeiro foram para a varanda pitar um palheiro e bebericar mais algumas pinguinhas... Na cozinha, o movimento era intenso, adiantando tudo para a festança do dia seguinte: churrascada, sarrabulho, farofa e a cervejada já pegava friagem num enorme freezer... A carne de sol, já estava no ponto. Acabou não chovendo e os convivas que já haviam chegado, logo acenderam um braseiro, dizendo que a churrascada iria ser puxada por uma boa costela gorda que logo deixou seu cheiro pelo ar.            

A chuva que prometera não veio e logo a peonada montava acampamento lá fora. Acomodações tinham à vontade nos imensos galpões, mas a galera só queria aproveitar a fresca da noite. A cerveja começou a rolar à toda e os convidados, sabedores dos dotes artísticos do turco, jogaram-lhe uma viola nas mãos e a festança começou sob o cheirinho da costela e ao som dos afinadíssimos ponteados do turco.              

Aquilo tudo, pelo jeito, iria varar a noite e, de vez em quando Salim tinha que dar um intervalo para atender algum comprador, mas, já havia aparecido uma sanfona e mais dois violeiros.             

Alguns casais já começavam levantar pó fino do areão ao som dos rasqueados e polcas e, no andar da carruagem, Salim aumentava suas vendas aos recém chegados, engordando a guaiaca.            

Salim era bem apessoado, tanto é que o mulherio o disputava palmo a palmo na dança das araras e ele se sentia o dono do mundo, vendendo, ponteando a viola e se considerando o rei do baile.           

 E seu almejado sonho, finalmente, havia chegado. Era só vender a mula e os burros, comprar a caminhonete e investir mais grana em mercadoria.

Correio de Corumbá

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