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Roberto Maciel (Betão)

CANTINHO DO BETÃO: O MISTÉRIO DO SÍTIO – FINAL

Dom, 11 Junho de 2023 | Fonte: Roberto Maciel (Betão)


A F1000 de Herculano, o herdeiro do misterioso sítio, estacionou junto aos degraus da varanda onde foi recebido cordialmente por Juninho, enquanto que, na varanda, estavam Eu, Seo Nhonhô, Hiroto e Pulchério e a arca com a carta-testamento se encontrava no chão.

Após um delicioso cafezinho da hora servido por Anunciata que também veio fazer parte do grupo, Herculano abriu o envelope e leu as linhas escritas à nanquim.

O desejo de meu pai é que o conteúdo desta arca seja dividido: 50 por cento para meu neto Herculano e a sobra, para aqueles que serviram por muito tempo: Anunciata, a cozinheira, Pulchério, o caseiro e Hiroto, o Capataz. Como não confiava em bancos, resolvi enterrar eu e meu filho, esta arca no pequeno cemitério da família por causa das constantes invasões de guerrilheiros que saqueavam, matavam e pilhavam as pequenas propriedades. Criamos o estratagema de colocar sobre o túmulo o terço com a cruz de prata, coisa que afugentava os supersticiosos que pensavam haver alguma entidade maligna enterrada lá. Isso e as pequenas erupções vulcânicas que ocorriam com as mudanças de tempo, acabaram por afugentar, também os peões. Meu desejo é que aqueles que me serviram fielmente por todo esse tempo sejam recompensados e que meu único herdeiro o Herculano, continue a lida e restaure a credibilidade, transformando este sítio em uma grande fazenda. Que meu último desejo seja respeitado.

Após a leitura, Herculano olhou fixamente para cada um dos premiados, dizendo: - Os papéis de suas aposentadorias já estão prontos e só peço que esperem mais algum tempo comigo até que eu ajeite as coisas.

Eu dispenso a aposentadoria – disse Pulchério e, com a parte que me coube, eu e Anunciata vamos comprar algumas vaquinhas para engrossar nossa invernada.

- Eu vou investir numa dentadura igual a de Seo Nhonhô – disse Anunciata – e daremos estudo para nossa enteada Saboró, que deseja ser veterinária.

Eu, assim como eles – disse Hiroto – também vou ficar por aqui mesmo a serviço de meu novo Patrão.

- Quero agradecer ao amigo Betão e ao seu parceiro Seo Nhonhô por essa estada aqui, auxiliando na lida e também ao burrinho por ter enxertado as eguinhas e, para selarmos nosso acordo, vamos todos para o bar do Gilson Cara de Bode pois vai haver um forféu grosso esta noite.

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A festança durou quase toda a noite e,pela madrugada eu, Seo Nhonhô e Julinho puxamos o carro com um barril da boa cachaça, um fardo de milho para o burrinho se banquetear e dois fígados para o Juninho e uma boa pacoteira no bolso.

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Seis meses depois, eu e Seo Nhonhô fomos convidados a voltar ao bar do Gilson Cara de Bode para uma festança casamentória e quando lá chegamos os preparativos estavam em andamento e logo o italianão e sua sanfoninha nos chamou para participarmos de sua mesa. Regada à comida pantaneira (Caribéu, Macarrão de Comitiva, Caldo de Piranha e outras iguarias). Chamamé, Polca Paraguaia, rasqueado e pagode. 

Os nubentes: Anunciata e Pulchério, Hiroto e uma Japonesinha e Herculano com uma antiga paquera da época de adolescência. 

Vim a saber que graças à galhardia dos ficantes, o sítio acabou se transformando em uma próspera fazenda, com vários peões.

Após o brinde dos noivos o bailão começou com um rasqueado. Seo Nhonhô, com a dentadura no copo de cachaça passava vista d’olhos pelo salão como se estivesse procurando alguém. A paraguainha, com quem dançara num dos bailes, achegou-se à mesa e chamou o Preto Velho pra luta. Este só teve tempo de aplocar a dentadura na gengivada e, com seu bermudão foló, rodopiou com a muchacha a noite inteira. Anunciata toda, sorriso, bailava com Pulchério. Soube, por Herculano, que as eguinhas já estavam buchudas e que, em breve iriam parir, e por incrível que pareça, as pequenas erupções vulcânicas que ocorriam com as mudanças de tempo, cessaram.

Quem ficou feliz foi Seo Nhonhô por esta história ter terminado bem.

Obs. COMO A PREVIDÊNCIA ME PAPA O QUE EU PODIA GUARDAR PARA VIAJAR, O REMÉDIO É APELAR PARA A IMAGINAÇÃO E VIAJAR SEM GASTAR.
 

Correio de Corumbá

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