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Roberto Maciel (Betão)

CANTINHO DO BETÃO: OSNY BAMBUZEIRO: O EREMITA – Final

Dom, 26 Fevereiro de 2023 | Fonte: Roberto Maciel (Betão)


      Antes de tacar fogo na casa, OSNY recuperou suas ferramentas, uma velha bicicleta, a caixa bem escondida com as últimas economias do orçamento super secreto e duas garrafas de cachaça; partiu, arrastando tudo até a caverna que encontrara, onde ficou vários dias em completo confinamento em companhia do gambazinho que lambera seu suor etílico da última vez que, embriagado, deixara o bolicho, onde fora afogar as mágoas de corno...
      Passou na sucataria de seu amigo Zé do Ferro Velho, adquirindo mais uma bicicleta velha e um eixo para colocar na carrocinha, ajustar as rodas novas e, enquanto o Zé fazia o serviço, andou mais um pedaço, indo parar na currutela onde, sentando-se a uma mesa, pediu cerveja ao atendente, um jovem bugre de uns 18 anos, cabelos escorridos nos ombros tostados pelo sol e um trejeito meio-meio.
    Uma das quengas veio fazer-lhe companhia e, papo vai, papo vem, ela desabafou com ele. Era Olava, que, depois de separada do marido que a deixara sem eira nem beira e, para sobreviver tivera que cair na vida. O bugre, de ouvidos atentos, ouvia todo o papo.
    Depois de “afogar o ganso”, saiu do quarto da quenga prometendo que um dia viria buscá-la para amigamento. Logo, logo, assim que sua nova casa estivesse pronta.
    O pessoal do bolicho admirou-se de vê-lo com vida, pois pensavam que ele havia morrido no incêndio do rancho. 
      Passou na sucataria de seu amigo Zé do Ferro Velho, adquirindo mais uma bicicleta velha e um eixo para colocar na carrocinha, ajustar as rodas novas e, enquanto o Zé fazia o serviço, andou mais um pedaço, indo parar na currutela onde, sentando-se a uma mesa, pediu cerveja ao atendente, um jovem bugre de uns 18 anos, cabelos escorridos nos ombros tostados pelo sol e um trejeito meio-meio.
    Uma das quengas veio fazer-lhe companhia e, papo vai, papo vem, ela desabafou com ele. Era Olava, que, depois de separada do marido que a deixara sem eira nem beira e, para sobreviver tivera que cair na vida. O bugre, de ouvidos atentos, ouvia todo o papo.
    Depois de “afogar o ganso”, saiu do quarto da quenga prometendo que um dia viria buscá-la para amigamento. Logo, logo, assim que sua nova casa estivesse pronta.
    Passou no ferro velho onde pegou, agora sua Bikerroça e, pedalando feliz, passou no bolicho pagando seu pedido e o bolicheiro lhe entregou o pedido de um cliente rico, contratando-o para uma changa de uns dois ou 3 dias. Iria passar no bolicho para pegá-lo, lá pelas 7 da matina. Partiu para a caverna já quase ao entardecer, mas não percebeu que alguém, sorrateiramente o estava seguindo através do mato fechado.
                     .x.x.x.x.x.x.x.
    Três dias depois, Osny voltou da changa com boa quantidade em dinheiro e saudoso, pronto para levar Olava para sua caverna. Passou no bolicho onde pegou mais uns trocados por conta dos artesanatos que levara, comprou alguns mantimentos básicos e partiu para a currutela a fim de levar sua amada.
- Ela fugiu com um caminhoneiro depois que limpou o caixa da féria do dia e o índio que aqui atendia, sumiu mata adentro.
   Ferido em seu orgulho, Osny ainda tomou umas biritas, pegou sua bikerroça e voltou para a caverna e, para sua maior surpresa, ao adentrar-se, deparou com sua cama bem mais alta do que era antes, o velho colchão de folhas substituído por colchão recheado com palha, vários postes de bambu espalhados pela caverna exalando perfume afrodisíaco que daí a pouco foram atraindo os pirilampos. Estranhou por não ver seu amigo gambá à sua espera. Guardou os mantimentos no pequeno armário e o dinheiro recebido fora para o orçamento secreto. Abriu uma garrafa de pinga e sentou-se do lado de fora da caverna esperando que o cheiro da cachaça atraísse o gambá.
 Faltava pouco para escurecer quando um vulto pulou de uma das árvores. Era o índio que conhecera na currutela e antes que pudesse se refazer do susto, o índio deu-lhe um arco e uma aljava de flexas de bambu bem pontiagudas e mandou que o seguisse floresta adentro.
    Osny não acreditava no que via: - Um belo pé de faina, várias bananeiras e, mais adiante, um belo riacho abarrotado de bom pescado. O índio ensinou-lhe o manejo das flexas para capturar alguns exemplares e, lhe ensinou o uso das fibras dos caules das bananeiras na confecção de cordas e linhas, muito mais resistentes que os cipós e, no caminho de volta foi lhe explicando que só podia pescar para comer e salgar para reserva. Não podia matar nenhum animal da floresta e, se quisesse carne de sol, teria que comprá-la no bolicho, pois a floresta tinha que ser preservada a todo custo para que lá os demais bichos predadores tivessem sua alimentação garantida e não invadissem ranchos em busca de alimentos.
- Mas, e o meu amigo gambá? O que foi feito dele?
- Era uma fêmea e entrou no cio, indo para o mato em busca de acasalamento mas, não se preocupe, ela voltará, talvez com o parceiro, em busca da cachacinha e de aconchego para seus filhotinhos.
   Os raios da lua cheia varando pelas frestas da mata e o farfalhar das ramas mais baixas, quase fizeram Osny ter um ataque. Um imenso queixada parou diante deles, batendo os dentes e o índio começou a se transformar, numa estranha criatura cheia de pelos, com pés virados para trás. Eu sou o Curupira, o guardião das matas e sempre estarei por perto te protegendo e a sua morada quando estiveres ausente.
     Dizendo isso, a figura folclórica montou no porco, arco e flexa, pendurados nas costas e uma enorme lança de bambu nas mãos, saindo em disparada mata adentro.
      Osny desmaiou e foi acordar em sua cama, livre dos incomodadores pernilongos, graças à bosta de vaca que queimava num canto.
   A quatizinha voltou com dois filhotes em sua bolsa marsupial e trouxe de quebra, o seu querido esposo e, assim, Osny e seus amiguinhos viveram na hibernagem, Osny só se ausentando para uma boa empreitada e para prover sua despensa de mantimentos e de cachaça. 

Correio de Corumbá

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