Roberto Maciel (Betão)
CANTINHO DO BETÃO: VENDAVAL
Dom, 06 Abril de 2025 | Fonte: Roberto Maciel (Betão)
O sol já ia se pondo assim que Alípio saiu à varanda do rancho e sentou-se na cadeira de balanço. Trazia um copinho de pinga para acalmar os nervos que já estavam quase à flor da pele por causa da maldita estiagem que abatia sobre suas terras, deixando o rancho, antes piscoso, com água apenas pela metade, tornando escassez de peixes a não ser uns lambaris, ou alguma tilápia que Saci, o rapaz que trabalhava com ele, puxava no anzol para o aperitivo que Madalena preparava com tanto capricho no velho fogão a lenha. O arroz e o feijão já estavam acabando e só o que abundava era lenha seca no mato.
O cão sempre saía atrás de algum coelho para complementarem os parcos almoços e janta do casal e dos demais. O papagaio do poleiro se contentava com algumas frutas ou espigas secas de milho que Saci debulhava para fazer alguma sopa.
Mais adiante Saci apontava com uma pequena penca de bagres, tilápias e algumas espigas de milho seco que colhera no milharal quase estorricado por conta da estiagem. O mandiocal, recém plantado, reclamava água, bem como o riacho e as frutíferas cuja produção era negociada na vila o que lhe permitia a aquisição de arroz, feijão, sal e café do dia a dia, inteirado com carne de sol comprada na Vila ou por alguma capivara que Saci, com sua boa pontaria, caçava na floresta. Covas de rachaduras se formavam no milharal, no canavial e nas raízes de frutíferas que abundavam pelo terreiro e pelo pomar.
Sem nenhum aviso, nuvens plúmbeas começaram a se formar no céu, tapando a tênue luz solar que, já pálida, tombava no poente. A rede e a cadeira foram recolhidas, às pressas, assim como o cão e o poleiro do papagaio. Logo raios e trovões começaram a alvejar o ar e aquela chuva de verão começou a desabar, a terra rachada, assim como o riacho. As rachaduras na terra começaram ávidas, beberam sofregamente o aguaceiro que escorria pelo chão. Tudo isso era observado pela vidraça. Pelos olhos atônitos dos dois homens e da mulher. Um raio atingiu um pé de jatobá já seco que iria acabar virando lenha sob o machado dos dois homens.
O temporal durou quase meia hora e, assim como veio, parou.
Alípio e Saci foram para a varanda, assim como o cão e o papagaio e, logo em seguida, mais um copinho de bebida e uma boa fritada de bagres. Madalenajá acendia os lampiões a querosene, que também já estava quase em falta e foi fazer companhia aos dois homens na varanda.
Uma pequena cascata na nascente do córrego, que se ligava ao riacho, começou a despejar nele muitos peixes do rio próximo, que o alimentava. Eram pacus, pintados, bagres, tilápias, lambaris, etc.
O solo ainda úmido ficara forrado com frutos de vez, tais como laranjas, tangerinas, cajus e atas, tudo pronto para serem colhidos no dia seguinte e comerciados no vilarejo onde, no armazém, comprariam mantimentos, manteiga, querosene, carne seca e forragem para o cavalo, assim como ração para os leitões que estavam na engorda, já que as abóboras do abobral, ainda estavam de vez.
Já que estavam no vilarejo, passaram no boteco para umas duas ou três cervejas, um traguinho da boa e, após isso, foram abastecer o tanque da caminhonete antes de voltarem para o rancho.
A pequena pinguela que ligava as duas margens estava precisando de reparos, coisa que Alípio e Saci fariam no dia seguinte.
Após uma boa goleada pra mode acabar de abrir o apetite, sentaram-se à mesa, após recolherem os mantimentos e depois almoçaram: arroz, feijão, bifetes de carne de capivara e mandioca frita.
Depois dessa lauta refeição, Saci foi ajudar Madalena a lavar a louça e Alípio foi puxar um breve cochilo pois, mais tarde, teriam muito trampo e muitos reparos para fazerem.
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