Economia
Requalificação da Malha Oeste fica mais longe de Corumbá
Relicitação “esfria” e ferrovia deve receber investimentos só a partir da capital.
Dom, 14 Abril de 2024 | Fonte: Da Redação
Antes protagonista das discussões em torno da recuperação da Malha Oeste, Corumbá agora enxerga o projeto de uma distância cada vez maior. O eixo do debate foi arrastado para a capital, Campo Grande, e para o leste do Estado, regiões que devem ser focos dos investimentos para a retomada da ferrovia.
Há duas semanas, o governador Eduardo Riedel levou até o Ministério dos Transportes o interesse das indústrias de celulose Suzano e Eldorado, instaladas na região leste, em construir conexões à Malha Oeste. O objetivo, segundo o governo, é escolher a melhor opção desde Três Lagoas até Aparecida do Taboado, a fim de ligar a Malha Oeste com a Malha Paulista, ferrovia que chega até o Porto de Santos (SP).
Nestes moldes, a recuperação da ferrovia chegaria só até Campo Grande, ideia que foi reforçada pelo governador durante a abertura da Expogrande, há uma semana, na capital. “Tem de chegar em Campo Grande pelo menos, porque chegando aqui viabiliza o trecho pro sul do Estado, para Ponta Porã, não tenho dúvida disso. É uma etapa de cada vez, um passo de cada vez”, discursou, acenando para os produtores de grãos da região sul, que teriam mais uma alternativa de escoamento.
A ideia avançou tanto que, esta semana, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) autorizou a Eldorado a desapropriar uma área de aproximadamente 700 hectares para construir um ramal ferroviário entre Três Lagoas e Aparecida do Taboado.
Para Corumbá, restaria apenas a recuperação do ramal que liga Antônio Maria Coelho a Porto Esperança. O trecho - também da Malha Oeste - interessa à J&F, que usa a hidrovia do Rio Paraguai para escoar minério de ferro.
O Executivo estadual estima investimento de até R$ 6 bilhões no trecho Campo Grande-Três Lagoas. Para o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Sustentável de Corumbá, Cássio Augusto da Costa Marques, o alto custo na requalificação de toda a Malha Oeste - estimado em R$ 18,9 bilhões - pode ter afastado investidores e esfriado a relicitação.
“O que eles estavam projetando não era simplesmente uma revitalização da malha que existe. Eles estavam fazendo uma mudança completa na bitola da linha. Nós temos uma bitola métrica, que ia passar para uma bitola larga. Isso aí joga o custo lá para cima. E eles não fizeram um estudo comparativo com a manutenção da bitola como é agora. Nós imaginamos que a manutenção da bitola como está agora, ao longo do tempo, esse custo seria muito menor. Metade ou menos da metade ao longo de um prazo. Isso poderia atrair, dar maior visibilidade e viabilidade a uma futura relicitação”, disse.
O estudo de viabilidade que sustenta o projeto de relicitação da Malha Oeste foi elaborado pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF - Corporación Andina de Fomento) e custou US$ 3 milhões.
A previsão da ANTT era de que o edital de relicitação fosse publicado até março deste ano - o que não aconteceu. O leilão está previsto para ser realizado até junho.
Contrato da Rumo é válido até 2025
Os 1.973 quilômetros de extensão da Malha Oeste são administrados pela Rumo Logística. Atualmente, está em vigor o terceiro termo aditivo do contrato, com prazo até 2025 ou até que uma nova empresa assuma o trecho.
A Rumo protocolou na ANTT o pedido de adesão ao processo de relicitação - ou seja, devolução da concessão - em julho de 2020. O Conselho do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos) aprovou a qualificação para relicitação da Malha Oeste em dezembro do mesmo ano.
A ANTT avalia que a infraestrutura da Malha Oeste, incluindo sua via permanente, está depreciada. Isto porque os investimentos feitos ao longo do período de concessão foram insuficientes para a manutenção da ferrovia. O ramal, então, perdeu capacidade de transporte. Hoje, os trens transportam volumes limitados de carga e com velocidades abaixo do potencial.
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