Gregório José
ECOS DE UMA LEI, SILÊNCIOS DE UMA NAÇÃO
Qua, 14 Maio de 2025 | Fonte: Gregório José
Veio o calendário e trouxe consigo mais um 13 de maio, data que, no longínquo ano de 1888, viu sua Majestade Imperial, a princesa regente, assinar a chamada Lei Áurea — documento curto, de dois artigos apenas, tão breve quanto tardio. Aboliu-se, assim, com caneta régia, a escravidão no Brasil. E, no entanto, esta pena leve como a pluma não levou junto os grilhões sociais, os açoites da desigualdade, nem tampouco o preconceito que se esconde nos salões, nos gabinetes e até nas esquinas mais modernas desta República.
De minha parte, que sou pardo, mestiço, e também cronista de minha época, observo com olhos além de uma visão míope as peripécias de uma nação que se diz avançada, mas que ainda guarda em sua alma os calos da senzala.
Que se fez do 13 de maio? Uma data sem festa? Uma efeméride sem efeito?
Concedeu-se a liberdade, mas não o pão. Libertaram-se os corpos, mas deixaram-se os espíritos acorrentados à pobreza, à ignorância imposta, ao esquecimento cínico.
Hoje, em 2025, celebramos 137 anos da abolição. E onde estão os frutos dessa árvore que juraram plantar?
Temos sim conquistas — e não devemos negá-las. Há pretos doutores, professores, juízes, deputados. Há movimentos organizados, arte pulsante, vozes que já não se calam. As cotas, tão combatidas pelos senhores de fala branca, trouxeram à universidade rostos que antes só entravam pela porta de serviço.
Mas também há os pires. Os mesmos pires. Estendidos nas esquinas, nos olhos cansados de uma faxineira que não sabe o nome de Machado, mas carrega sua sabedoria na espinha. Ainda há aqueles que esperam a benevolência do Estado, ou a esmola moral da elite, como se cidadania fosse prêmio e não direito.
E por quê?
Porque não houve reparação. Porque a abolição não veio com terra, escola ou moradia. Porque os que lucraram com a escravidão nunca pagaram o preço do crime. Porque a cor da pele ainda pesa mais que o mérito, e porque a memória nacional se faz, muitas vezes, com borracha em vez de tinta.
É por isso que as cotas existem. Não como favor, mas como correção. Não como privilégio, mas como degrau. Quem clama contra elas, o faz porque teme dividir o que sempre considerou exclusivo.
A verdadeira liberdade, senhores, não é o não ter dono. É o poder escolher, decidir, ser visto como igual — no banco da escola, no concurso público, no crédito do banco, na polícia que não atira primeiro.
E enquanto isso não se cumprir, o 13 de maio será apenas uma data no papel, sem alma, sem povo, sem verdade.
O Brasil precisa, enfim, não de novas leis. Mas de novos olhares.
Pois, como dizia este vosso cronista, “ao vencedor, as batatas”. Mas, convenhamos, depois de tanto tempo, era justo que o prato fosse mais bem servido.
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