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Gregório José

TIO PAULO E O CACHORRO JOCA

Sáb, 04 Maio de 2024 | Fonte: Gregório José


Dois episódios que recentemente abalara a opinião pública nos força a mergulhar em uma profunda reflexão sobre os valores que regem nossa sociedade contemporânea. A morte de um cão, Joca, em um voo operado pela Gol, desencadeou uma comoção sem precedentes, levando tutores de cães da raça “Golden Retriever” a se manifestarem em defesa da regulamentação do transporte aéreo de animais de grande porte. É inegável o amor e a devoção que muitos nutrem por seus companheiros caninos, e a busca por melhores condições para sua segurança é louvável.

No entanto, enquanto milhares de pessoas se mobilizavam em defesa dos direitos dos animais, um incidente paralelo, tão peculiar quanto trágico, passou despercebido por grande parte da sociedade. Refiro-me ao caso de “Tio Paulo”, como ficou conhecido, em que o corpo de Paulo Roberto Braga foi levado por sua própria sobrinha a uma agência bancária com o intuito de sacar um empréstimo póstumo. Este evento, ao contrário do ocorrido com Joca, não suscitou uma onda de solidariedade ou indignação pública, mas sim se tornou motivo de piadas e memes nas redes sociais.

É profundamente perturbador constatar como a morte de um ser humano, um ente querido, pode ser trivializada e transformada em entretenimento virtual, enquanto a perda de um animal desperta uma comoção global. Não pretendo desmerecer o amor e o respeito pelos animais, mas questiono os critérios que regem a nossa sensibilidade e empatia.

O caso de “Tio Paulo” não é apenas um incidente isolado; é um reflexo de uma sociedade que muitas vezes prioriza o espetáculo midiático em detrimento da dignidade humana. Empresas aproveitam-se dessas tragédias para promover seus produtos, influenciadores e tik-tokers capitalizam em cima do sofrimento alheio, enquanto o verdadeiro valor da vida é relegado a segundo plano. Centenas, se não forem milhares de pessoas riram e se divertiram com o caso do idoso em uma cadeira de rodas, morto. Muitos imitaram, fizeram “chacota”, ridicularizaram o homem morto.

É urgente que repensemos nossas prioridades e valores como sociedade. Devemos buscar um equilíbrio entre o respeito aos direitos dos animais e a valorização da vida humana. Não podemos permitir que a superficialidade das redes sociais e o sensacionalismo midiático desumanizem nossas relações e obscureçam a verdadeira essência da solidariedade e compaixão.

O caso de “Tio Paulo” e a comoção em torno da morte de Joca são dois lados da mesma moeda, uma moeda que revela as contradições e desafios morais de nossa era digital. Cabe a nós, como indivíduos conscientes e responsáveis, escolhermos o caminho da empatia e do respeito mútuo, reafirmando o valor sagrado de toda forma de vida, seja ela humana ou animal.

Correio de Corumbá

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