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POPULARIZAÇÃO DA CASTANHA DE BARU É CHAVE PARA A SOBREVIVÊNCIA DE SUA CADEIA DE VALOR

Sáb, 24 Maio de 2025 | Fonte: Embrapa Cerrados (*)


POPULARIZAÇÃO DA CASTANHA DE BARU É CHAVE PARA A SOBREVIVÊNCIA DE SUA CADEIA DE VALOR

O baruzeiro é um tesouro que sustenta inúmeras famílias agroextrativistas e possui um potencial ainda subexplorado.

A pesquisa científica no Brasil enfrenta desafios conhecidos por todos. Agora, imagine unir esses obstáculos ao trabalho com uma espécie nativa do Cerrado, ainda pouco conhecida dentro e fora de seu bioma, mas que há mais de duas décadas vem sendo estudada por universidades e instituições de pesquisa. Essa espécie é o baruzeiro (Dipteryx alata Vogel), um tesouro que sustenta inúmeras famílias agroextrativistas e possui um potencial ainda subexplorado. Extraída de um fruto seco de uma árvore frondosa, o baruzeiro, a castanha de baru é um exemplo de aproveitamento integral: quase tudo da planta pode ser utilizado, desde a amêndoa nutritiva até a polpa e a madeira.

O baruzeiro, da família das leguminosas, como o feijão e a soja, ainda é desconhecido. Muitas pessoas o confundem com uma palmeira. Por isso, necessita, assim como outras espécies do Cerrado, ter sua importância econômica, ecológica e nutricional reconhecida. É urgente popularizar essa árvore e seus múltiplos usos, desde a alimentação humana e animal até seus benefícios medicinais e ecológicos. O baruzeiro não só fortalece a segurança alimentar, mas também desempenha um papel crucial na preservação do Cerrado, um bioma ameaçado.

Um potencial ainda inexplorado

A castanha de baru é menos conhecida do que outros frutos nativos, como o pequi, o cupuaçu, a castanha-do-brasil e o açaí. No entanto, seu valor nutricional é comparável, se não superior, ao desses alimentos já consagrados. Rica em proteínas, fibras, antioxidantes e gorduras saudáveis, a castanha de baru já faz parte da alimentação escolar em municípios como Alto Paraíso (GO), Montes Claros (MG) e Palmas (TO), onde é servida com outros produtos regionais, como a farinha de jatobá. Em Montes Claros, por exemplo, os alunos da rede municipal de ensino, desfrutam de refeições enriquecidas com pequi, farinha de buriti, polpas de frutas nativas, mel de aroeira, baru e até rapadurinha com baru.

Essas iniciativas mostram que a inclusão do baru na alimentação escolar, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), é um caminho promissor para democratizar seu consumo, valorizar os alimentos e trazer o letramento ambiental por meio do alimento regional nas escolas. Apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito para que o baru alcance o mesmo status de outros superalimentos brasileiros.

A cadeia de valor do baru: desafios e oportunidades

A cadeia de valor do baru é complexa e multifacetada. Envolve desde a pesquisa científica, com estudos botânicos, agronômicos e ecológicos, até questões práticas como colheita, pós-colheita, processamento e comercialização. Além disso, há aspectos sociais e culturais ligados às comunidades que dependem da coleta e do cultivo do baruzeiro para sua subsistência.

As regiões produtoras de baru no Cerrado muitas vezes estão desconectadas, e há uma carência de investimentos em pesquisa e infraestrutura. Essas condições acarretam na perda de informações e junção de dados de suas safras no Cerrado, dificultando pesquisas sobre os potenciais da espécie e os investimentos para sua infraestrutura e consolidação. Por se tratar de uma espécie perene, o desafio é ainda maior, pois os resultados de iniciativas de plantio e manejo só são visíveis a longo prazo.

Pensando nos plantios comerciais, as instituições de pesquisa têm desenvolvido estudos para promover o melhor aproveitamento alimentar da espécie e tecnologias para subsidiar sua adoção nos sistemas de produção diversificados, especialmente os SAFs (sistemas agroflorestais), e, também, na substituição do eucalipto por baru nos sistemas integrados, como o ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta).

Por isso, é essencial pensar em políticas públicas e parcerias que garantam o financiamento de pesquisas e ações sustentáveis, o mapeamento de áreas nativas de produção, bem como a identificação das regiões ameaçadas pelo desmatamento, criando estratégias para proteger e expandir o cultivo dessa espécie.

Para que isso ocorra, é urgente a interconexão entre órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os ministérios de Agricultura e Pecuária (Mapa), Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), assistência técnica e extensão rural, universidades e demais institutos de pesquisa, prefeituras, cooperativas, associações, atravessadores e agroextrativistas para otimizar os dados de produção, divulgar os resultados já existentes, promover o consumo da castanha de baru em todo o país e popularizar sua diversidade de usos. Além disso, é preciso mapear as áreas nativas de produção, identificar regiões ameaçadas pelo desmatamento e criar estratégias para proteger e expandir o cultivo dessa espécie.

O baruzeiro e o resgate do patrimônio alimentar do Cerrado

O baruzeiro é apenas uma das muitas espécies nativas do Cerrado que foram relegadas ao esquecimento ao longo dos séculos, substituídas por frutas exóticas. No entanto, em um cenário global de crescimento populacional, insegurança alimentar e busca por alimentos sustentáveis, o resgate dessas espécies é mais do que necessário: é urgente. Além do baru, frutos como o araticum, a mangaba, a gabiroba e o cajuzinho-do-cerrado têm potencial para diversificar a base alimentar e contribuir para a preservação ambiental.

Infelizmente, a maioria da população brasileira ainda desconhece esses tesouros do Cerrado. A popularização da castanha de baru pode contribuir para mudar essa realidade e fortalecer a cadeia de valor desta e de outras espécies, promovendo a biodiversidade e a sustentabilidade no bioma de maior ameaça do último ano.

Um chamado para a ação

Popularizar a castanha de baru é mais do que uma questão de gosto ou curiosidade gastronômica; é uma questão de sobrevivência para comunidades agroextrativistas, de preservação para o Cerrado e de segurança alimentar para o país. É preciso unir esforços para garantir que o baruzeiro e seus frutos ocupem o lugar que merecem na mesa dos brasileiros.

Experimente a castanha de baru, apoie iniciativas que promovam seu consumo e divulgue seus benefícios. Juntos, podemos transformar o baru em um símbolo de sustentabilidade e resgate do patrimônio alimentar brasileiro. O Cerrado agradece, e o futuro também.

(*) Sarah Melo-Teixeira (Núcleo do Pequi – MG)

Aline da Nóbrega Oliveira (IPE-DF Codeplan)

Helenice Gonçalves (Embrapa Cerrados)

Correio de Corumbá

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